Celebrações do centenário da participação portuguesa na Batalha de La Lys, na I Guerra Mundial, começam no dia 8 de abril.
Durante o dia de hoje (8 de abril), Marcelo Rebelo de Sousa dá inicio às comemorações com o descerramento da placa comemorativa do Centenário da Batalha de La Lys na Avenue des Portugais, em Paris, seguindo-se uma Cerimónia Militar de Homenagem ao Soldado Desconhecido Francês, no Arco do Triunfo.
O chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro, António Costa, vão ser recebidos pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, no dia 09 de abril, em Paris.
O Presidente francês vai também estar no cemitério militar português de Richebourg, no norte de França, ao lado de Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa por ocasião do centenário da Batalha de La Lys, travada em 9 de abril de 1918, em plena I Guerra Mundial. Às 10h20 está prevista a chegada dos dois Presidentes à entrada do cemitério de Richebourg e às 10h25 têm lugar as honras militares.
Segundo uma nota, às 10H30 tem lugar a cerimónia com hinos nacionais cantados por crianças de quatro classes de escolas primárias das localidades de Richebourg e de Vieille-Chapelle e serão proferidos os discursos dos Presidentes da Repúblicas portuguesa e francesa.
Depois serão ainda colocadas coroas de flores, homenageados os mortos e assinado o livro de ouro. Heverá ainda lugar para a visita à exposição “Racines” (Raízes) de Aurore Rouffelaers, no Pavilhão Desportivo de Richebourg.
Um dos momentos altos será também a imposição da Medalha da Defesa Nacional, 4.ª Classe, a três cidadãos residentes em França e dirigentes da Liga dos Combatentes: Felícia Pailleux, Afonso Maia (a título póstumo) e João Marques.
Segue-se, à tarde, uma visita à igreja de La Couture e o evento termina com a Cerimónia Militar de Homenagem no Monumento aos Portugueses mortos na Grande Guerra em La Couture (14H15).
A batalha que matou mais soldados portugueses
Os alemães chamaram-lhe operação Georgete e o objetivo era romper as linhas aliadas, separar as forças britânicas das francesas e forçar uma mudança estratégica na frente ocidental.
Na madrugada de 9 de abril de 1918, oito divisões alemãs, com cerca de 100 mil homens e mais de mil peças de artilharia, avançaram sobre os 11 quilómetros onde estavam as forças portuguesas, constituídas por duas divisões e cerca de 20 mil homens.
As forças portuguesas foram trucidadas, mas resistiram tempo suficiente para permitir aos aliados reforçar a e suster a ofensiva.
Os portugueses perderam praticamente metade das suas forças, e ficaram reduzidas a pouco mais de uma divisão tendo registado cerca de 1300 mortos, 4600 feridos, 2000 desaparecidos e mais de sete mil prisioneiros. Foi o momento mais sangrento do Corpo Expedicionário Português na I Guerra Mundial.
Versões portuguesa e britânica não são coincidentes
As versões britânica e portuguesa sobre a Batalha de La Lys, há 100 anos, que fez cerca de 400 mortos e 6.600 prisioneiros entre as tropas portuguesas não coincidem, com os comandantes de ambos os lados “a trocarem culpas”. Do lado português, a batalha do dia 9 de abril de 1918 em La Lys, na Flandres francesa, em plena Primeira Guerra Mundial, é descrita por Gomes da Costa (que comandou na linha da frente) como um ato de resistência das suas tropas. No seu relatório sobre a batalha, citado pelo historiador Filipe Ribeiro de Meneses na obra “De Lisboa a La Lys”, Gomes da Costa lembra que a divisão que estava na linha da frente (a 2.ª divisão) havia recebido a ordem para abandonar as trincheiras de 9 para 10 de abril.
Gomes da Costa nos seus escritos “culpa os civis franceses que residem naquela área, mas que fazem parte de um esquema de espionagem alemão, de passarem informações para os alemães e, por isso, estes atacam no dia preciso em que a divisão iria ser retirada”
Por seu turno, fontes britânicas acusam “desertores portugueses, soldados portugueses que fogem e que contam tudo aos alemães para receberem um jantar ou serem bem tratados”, afirmou. Regra geral, os britânicos “culpam os portugueses pelas dificuldades encontradas durante a batalha”. No seu diário, o comandante inglês Douglas Haig escreveu que “os homens recuaram, ou, mais precisamente, ‘fugiram’”. Ribeiro de Meneses concluiu: “de facto, os testemunhos britânicos da ação portuguesa durante o 9 de abril não se coadunam com o tom heroico do relatório de Gomes da Costa”.
O general português escreve que a divisão nacional resistiu oito horas: “Não podendo vencer, pôde apenas morrer, o que fez, deixando 50% do seu efetivo no campo de batalha”. Para o exército português, a 2.ª divisão “fez tudo o que dela se podia esperar”. “Forçada a recuar, fê-lo em ordem razoável, salvando-se o grosso da formação graças ao sacrifício de muitos que lutaram até ao último cartucho”, descreve Gomes da Costa.
Segundo Ribeiro de Meneses, “as baixas britânicas, embora pesadas, são consideradas no âmbito de quatro anos de perdas, as baixas portuguesas sofridas nessas poucas horas representam a maioria das perdas do CEP na frente ocidental”. O CEP, símbolo do esforço de guerra português na frente ocidental, chegou às trincheiras em janeiro de 1917, e após a Batalha de La Lys desapareceu enquanto força organizada. A Primeira Guerra Mundial terminou com a vitória dos aliados em novembro de 1918.