A monarca ocupa o trono britânico desde 1952 e passou por diversas crises – políticas ou familiares – com dignidade e perseverança. Uma herança que, curiosamente, é fruto da renúncia do tio e da morte prematura do pai.
A rainha Elizabeth II detém vários recordes notáveis: ela é a monarca reinante mais antiga e teve o casamento mais duradouro na história da realeza britânica. Até mesmo a sua coroação entrou para a história: nunca antes tantos espectadores – estimados 300 milhões mundo afora – acompanharam a cerimónia. E, por fim, ninguém jamais ocupou por tanto tempo o trono britânico.
Mais dois anos, e a rainha Elizabeth II alcança o rei francês Luís 14, apelidado de “Rei Sol”, que ocupou o trono do reino da França e Navarra por 72 anos e 110 dias, entre os anos de 1643 e 1715.
A rainha Elizabeth II tem provavelmente também a maior coleção de chapéus – nada comprovado, apenas uma suposição com base nas inúmeras aparições públicas da monarca ao longo das décadas. Mas os ternos e chapéus elegantes, sempre tom sobre tom, naturalmente, ainda são uma marca registrada da rainha. As suas roupas são desenhadas pelos costureiros da corte real e meticulosamente adequadas a cada ocasião: nada é deixado ao acaso.
Os detalhes refinados não faltam. Por exemplo, cordões de chumbo são costurados nas bainhas dos mantos, para que não se abram com uma rajada repentina de vento. Num desfile em maio de 2012, a rainha usava um vestido de lantejoulas e o que parecia ser um casacão aberto. Nada disso: era apenas uma faixa de tecido a imitar lantejoulas inserida sob o manto, para evitar que alguma rajada de vento o fizesse voar.
Estável como o seu vestuário, a rainha mantém-se inabalável há 70 anos, também perante os pés-de-vento políticos: sentimentos não são coisa que se mostre em público. Em vez disso, os súbditos são sempre recebidos com um sorriso cálido, um aceno amigável – e, volta e meia, um gáudio popular, como nas comemorações do seu aniversário, no início de junho. (Na verdade, Elizabeth nasceu em 21 de abril de 1926, mas a celebração pública é realizada sempre no desfile Trooping the Colour, uma cerimónia militar que marca o aniversário oficial do soberano britânico).
Celebrações pomposas
Em 2022 haverá não apenas um, mas dois feriados adicionais, para que os britânicos possam participar nas duas festividades: o aniversário de 96 anos e o jubileu de platina pelos 70 anos no trono, cuja data exata foi este domingo (6).
Tudo deve ser um pouco mais pomposo do que o costume. As celebrações começarão a 2 de junho com o tradicional desfile militar Trooping the Colour, uma cerimónia que, desde o século XVII, honra o aniversário do regente britânico, não importa em que época do ano tenha nascido, de facto. Também serão acesas fogueiras em todo o Reino Unido, nas Ilhas do Canal, na Ilha de Man, em territórios ultramarinos britânicos e em cada uma das 54 capitais da Commonwealth.
No dia seguinte, está agendada uma missa de Ação e Graças pelo longo reinado da rainha Elizabeth II, na Catedral de São Paulo, em Londres. Para o 4 de junho, a emissora britânica BBC está a organizar um concerto ao vivo diretamente do Palácio de Buckingham intitulado Platinum at the Palace com “algumas das maiores estrelas do entretenimento do mundo”. Os cidadãos interessados podem candidatar-se a um bilhete para assistir às estrelas mundiais na presença da rainha.
A 5 de junho, sob o lema de “Grande Almoço Jubilar”, haverá uma extensa celebração nas ruas inglesas. Por todo o Reino Unido sirão realiza-se mais de 200 mil festas locais, com longas mesas, e muita comida e bebidas.
Rainha de um dia para o outro
Na verdade, Elizabeth nem deveria ser a monarca britânica. Quando nasceu, não era a princesa da coroa britânica, a herdeira direta ao trono. Mas quando o seu tio Edward VIII abdicou do trono em 1936 e o seu pai o assumiu, tornando-se George VI, tudo mudou. Como filha primogénita, acabou por se tornar a sucessora imediata ao trono britânico.
Elizabeth tinha 25 anos e estava em viagem oficial no Quénia quando o seu pai morreu, a 6 de fevereiro de 1952. E assim tornou-se rainha nesa mesma noite. A princesa, conhecida no círulo privado como Lilibet, tornou-se “Elizabeth II, pela graça de Deus, rainha do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte e dos seus outros Reinos e Territórios, chefe da Commonwealth, defensora da fé”. Foi oficialmente coroada a 2 de junho de 1953, numa grande cerimónia na Abadia de Westminster.
Ao longo doseu reinado, vivenciou o colapso do Império Britânico, depois a Guerra Fria e, mais recentemente, o Brexit e a pandemia do coronavírus. Ao todo, recebeu 14 primeiros-ministros no Palácio de Buckingham, entre eles Winston Churchill, Margaret Thatcher e o atual Boris Johnson.
Uma família complicada
Inicialmente, o reinado de Elizabeth II foi dificultado pela sua irmã Margaret, envolvida constantemente em escândalos, festas e casos sexuais – e o primeiro divórcio na família real britânica em mais de 400 anos.
Com o príncipe Philip, que desposou em 1947, a soberana teve quatro filhos, Charles, Ana, Andrew e Edward. Estes deram, tmbém, muitos problemas. Tudo começou conforme manda o figurino da realeza, com o casamento dos sonhos do seu filho mais velho e herdeiro ao trono Charles, com a Lady Diana, em 1981.
Mas o matrimónio revelou-se rápidamente um desastre. E não apenas este: todos os filhos, excepto o mais novo Edward, divorciaram-se, sempre acompanhados de escândalos. Ao todo, a rainha Elizabeth II tem oito netos, dois de cada um dos filhos.
Um deles, Harry, o filho mais novo do príncipe Charles, renunciou à realeza. Pouco depois de se casar, em 2018, com a atriz americana Meghan Markle, repetiu o gesto de seu tio Edward VIII, ao desligar-se da família real. O casal mudou-se para os Estados Unidos e teve dois filhos. Atualmente já circulam rumores de divórcio, mas que ainda devem ser vistos com “cautela”.
O príncipe Andrew é há anos uma constante “dor de cabeça” para a rainha. está envolvido num escândalo sexual pelo qual terá que responder num tribunal nos Estados Unidos. Elizabeth II apoiou-o, no entanto, por muito tempo, mas em meados de janeiro de 2022 finalmente revogou todas as patentes militares e o patrocínio real.
A morte de Diana, em 1997, não deixou a rainha incólume, mas o pior golpe foi a perda do seu consorte, com quem esteve casada 73 anos. A 9 de abril de 2021, teve de se despedir de seu amado marido. Pouco antes celebrava o seu 95º e 100º do príncipe Philip.
Com dignidade e disciplina
Os últimos dois desfiles comemorativos do aniversário da monarca foram bem discretos e aconteceram a portas fechadas, devido à crise sanitária em torno da covid-19. O de 2021 foi certamente o mais mais sombrio, apenas dois meses após a morte de Philip.
Mas a rainha Elizabeth II não deixaria de celebrar as datas importantes com dignidade e disciplina. Corajosamente, sentada sozinha numa cadeira, sorriu para os participantes da cerimónia militar em homenagem ao seu 95º aniversário.
A sua escolha de vestuário, no entanto, não estava tão colorida como de costume: um manto de um cinza claro discreto, mas, por baixo, brilhava um vestido com pequenas flores amarelas, também presentes na gola do casaco. E, claro, um chapéu a condizer.