A presidente da iniciativa não oficial, voluntária e sem fins lucrativos, Maria João Rodrigues de Araújo, espera que o programa, com mais de 300 atividades ao longo de quatro anos, tenha servido para estreitar os laços entre os dois países.
“Penso que deixamos um legado importante para as gerações futuras com os jovens que participaram nestes eventos no prisma da amizade e da paz entre os dois países”, disse Maria João Araújo, sublinhando que a base da iniciativa foi sempre a promoção dos valores consignados no Tratado da Aliança assinado a 16 de Junho de 1373 em Londres, no qual os dois países se complementam numa “verdadeira, fiel, constante, mútua e paz perpétua e amizade, união e aliança e ligas de afeto sincero”.
Na quinta-feira, o rei Carlos III junta-se ao Presidente português numa cerimónia em Londres para comemorar o aniversário da Aliança Luso-Britânica, considerada a mais antiga aliança diplomática em vigor.
A aliança remonta ao Tratado de Tagilde, assinado em 10 de julho de 1372, reforçado pelo Tratado de Paz, Amizade e Aliança em 1373.
A professora de música e investigadora da Universidade de Oxford , Maria João Rodrigues de Araújo começou a trabalhar nesta ideia em 2016, ainda sem um plano claro sobre o formato das comemorações.
Nos anos seguintes, manteve reuniões com o Governo e o Instituto Camões em Portugal, a Embaixada Britânica e o Arcebispo de Canterbury, Justin Welby, que abriram caminho ao patrocínio oficial do então Príncipe Charles e do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa.
Os múltiplos contactos incluíram o Governo britânico, o Estado-Maior das Forças Armadas Portuguesas e o Vaticano, tendo o Papa Francisco abençoado a iniciativa.
O primeiro evento aconteceu em 2019, por altura de recordar o Dia da Paz, a 19 de julho de 1919, quando soldados portugueses se juntaram a um grande desfile pelas ruas da capital britânica para celebrar o fim da Primeira Guerra Mundial (1914-18).
Desde então, o Portugal-UK 650 estima ter promovido pelo menos 300 atividades com mais de 200 parceiros em áreas como a investigação académica, educação, cultura, economia ou militar.
“Procurámos envolver não só as autoridades, mas a sociedade civil, para que mais pessoas pudessem conhecer os valores da aliança”, sendo que um dos princípios orientadores foi que a maioria dos eventos fosse acessível a todos, gratuitos e descentralizados no país, para “evitar ser elitista e não ser comercial”.
O Tratado de Tagilde
Foi assinado em 10 de Julho de 1372 em Tagilde, freguesia do concelho de Vizela. Foi um dos mais importantes acordos políticos de Portugal. O rei D. Fernando I de Portugal assinou com os delegados de João de Gante, duque de Lencastre, o chamado “pacto de Tagilde”. Esse acordo constituiu o primeiro fundamento jurídico do futuro tratado de aliança Luso-Britânica, que ainda hoje perdura.
Naquele pacto, Portugal comprometia-se a ajudar João de Gante, Duque de Lencastre, por mar e por terra, contra Henrique II de Castela e/ou o Rei de Aragão. O rei português não poderia adquirir quaisquer terras nos senhorios de Castela. Já no reino de Aragão as terras seriam daquele, D. Fernando ou João de Gante, que primeiro as conquistasse.
Junto à igreja matriz de Tagilde, encontra-se desde 1953 um elegante padrão em pedra que memoriza o ato entre os dois países.