Os emigrantes cabo-verdianos em Portugal lideraram o forte crescimento no envio de remessas em divisas para o arquipélago, disparando mais de 37% em 2021, segundo dados do Banco de Cabo Verde (BCV), que reconhece o “altruísmo” da diáspora.
De acordo com dados de um relatório do BCV, as remessas dos emigrantes “evoluíram muito favoravelmente” em 2021, “explicado sobretudo pelo crescimento das transferências em divisas” de Portugal (37,7%), dos Estados Unidos da América (36,3%) e de França (14,4%).
Estes países “acolhem a maioria dos emigrantes cabo-verdianos e cujos mercados de trabalho registaram melhorias ao longo do ano, num contexto de recuperação económica e consequente maior procura por mão-de-obra e de medidas temporárias de apoio e proteção do emprego nestes países. O altruísmo dos emigrantes, contribuiu igualmente, para esta evolução”, observa-se no relatório do banco central.
Este desempenho, segundo o BCV, influenciou o défice da balança corrente de 2021 de Cabo Verde, que registou uma melhoria de quase 3.360 milhões de escudos (30,5 milhões de euros) face a 2020, quando atingiu os 23.772 milhões de escudos (215,8 milhões de euros), “para o qual concorreram, sobretudo os aumentos registados nas remessas de emigrantes”, em 24%.
Números provisórios do banco central divulgados em março apontam que as remessas enviadas pelos emigrantes cabo-verdianos para o arquipélago aumentaram em 2021 para um recorde superior a 25.833 milhões de escudos (232 milhões de euros).
O resultado de 2021 foi impulsionado pelo desempenho em dezembro, com divisas equivalentes a 2.799,8 milhões de escudos (25,1 milhões de euros) enviadas pelos emigrantes num único mês.
Em todo o ano de 2020, os emigrantes cabo-verdianos enviaram remessas no valor de mais de 21.142 milhões de escudos (190 milhões de euros), que foi então um novo recorde, aumentando praticamente 3,5% face ao ano anterior.
Entre o total de remessas em divisas enviadas em 2021 lideraram, tal como no ano anterior, as provenientes dos emigrantes cabo-verdianos nos Estados Unidos da América e em Portugal, que totalizaram, respetivamente, 8.596 milhões de escudos (77,2 milhões de euros) e quase 6.749 milhões de escudos (60,6 milhões de euros).
A população de Cabo Verde ronda os 500 mil habitantes, mas estima-se que mais de um milhão de cabo-verdianos vivam na Europa e Estados Unidos da América, estando o sistema financeiro do arquipélago dependente das remessas desses emigrantes.
A Lusa noticiou anteriormente que as remessas enviadas pelos emigrantes cabo-verdianos em Portugal caíram quase 14% em 2020, sendo ultrapassadas pelas provenientes de França e dos Estados Unidos da América.
O primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, reconheceu no final de 2020, no parlamento, a importância para a economia nacional das remessas enviadas pelos emigrantes, que continuavam a crescer e representam já 11,3% do Produto Interno Bruto (PIB) cabo-verdiano.
“As contribuições das remessas dos emigrantes têm sido importantes ao longo da história de Cabo Verde. São importantes para as famílias, para o financiamento da economia cabo-verdiana e também demonstra que a confiança tem aumentado, mesmo no período da pandemia”, afirmou.
O governante explicou que as remessas valiam 10,6% do PIB, em média, na legislatura de 2012 a 2015, mas que subiram para 11,3% no período de 2016 a 2019.
“E neste período de pandemia, ao contrário do que estava estimado, tem havido uma evolução positiva, um crescimento de 20% de junho de 2019 a junho de 2020”, destacou Ulisses Correia e Silva, reforçando a importância destas remessas por continuarem a aumentar, globalmente, apesar das dificuldades económicas que os emigrantes cabo-verdianos também enfrentam nos países onde trabalham, devido à crise económica provocada pela covid-19.