Xi visita um dos seus principais aliados, Vladimir Putin, para discutir, entre outras coisas, as tensões com o ocidente, especialmente com os Estados Unidos, e o conflito na Ucrânia, no qual Pequim parece disposto a interceder, uma vez que também tem mantido tradicionalmente boas relações com Kiev.
O líder chinês chegou a Moscovo no dia seguinte à primeira visita de Putin à Ucrânia – especificamente ao porto de Mariupol, na região de Donetsk – desde o início da invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022.
Na terça-feira, no Kremlin, os dois líderes vão discutir questões da agenda bilateral e internacional e assinar uma série de acordos importantes, numa reunião aberta, após a qual realizam uma conferência de imprensa conjunta.
Joseph Torigian, Professor Assistente e especialista em política chinesa fala do objetivo deste encontro para os dois líderes: “Querem afirmar a parceria estratégica (…) para mostrar que as tentativas da América de dividir a relação e tornar a relação dispendiosa para a China não resultarão. Eles querem mostrar ao mundo em desenvolvimento que podem desempenhar um papel construtivo. Querem evitar custos económicos e reputacionais na Europa”.
Estão previstas reuniões formais, mas, segundo o Kremlin, o que realmente interessa a Moscovo é o encontro informal que Putin e Xi realizaram já esta segunda-feira, onde poderam falar “cara a cara” sobre tudo o que quiserem, sem qualquer pressão mediática.
Segundo o conselheiro do Kremlin para as questões internacionais, Yuri Ushakov, foram discutidas neste encontro “as questões mais importantes e sensíveis”. Ushakov observou que Moscovo aprecia a posição moderada de Pequim sobre a campanha militar da Rússia na Ucrânia.
Após a visita de três dias à Rússia, Xi deverá ter conversações, por videoconferência com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, naquela que seria a primeira conversa entre os dois desde o início da guerra. Os analistas dizem, no entanto, que a probabilidade de um grande avanço sobre a Ucrânia é pequena.
A iniciativa de paz que a China apresentou há algumas semanas não satisfez nem Kiev, nem Moscovo, nem o ocidente, mas, colocou Xi no papel de mediador, papel que ele também desempenhou com sucesso entre dois países aparentemente irreconciliáveis, como a Arábia Saudita e o Irão.
A China não condenou publicamente a invasão russa e critica os EUA por fornecerem armas à Ucrânia e a NATO e por não abordarem as preocupações de segurança russas.
No entanto, Pequim apela ao diálogo e ao respeito pela integridade territorial de todos os Estados – incluindo a Ucrânia. “Nenhum país deve ditar a ordem internacional”, escreveu Xi Jinping num artigo publicado no jornal russo, Rossiyskaya Gazeta, onde se lê também: “A China sempre defendeu uma posição objetiva e imparcial baseada na substância do problema e tem promovido ativamente as conversações de paz”.
Neste artigo surgido na véspera da visita, Xi Jinping apresentou a sua visita como uma “viagem de amizade, cooperação e paz”, perante os ocidentais que encaram a relação sino-russa com desconfiança. “Estou ansioso por trabalhar com o Presidente Putin para adotarmos uma nova visão” para as relações bilaterais, escreveu.
O presidente russo, Vladimir Putin, publicou, por seu turno, um artigo no Diário do Povo, o órgão oficial do Partido Comunista Chinês (PCC) distribuído pelo Kremlin, onde diz que a qualidade dos laços entre Moscovo e Pequim é “superior à dos sindicatos políticos e militares da era da Guerra Fria” e aponta a relação com a China como a “a pedra angular da estabilidade regional e global”. O chefe do Kremlin escreve ainda que as relações com a China “estimulam o crescimento económico e servem como garante de uma agenda positiva nos assuntos internacionais”.
Putin agradece a “atitude equilibrada” da China sobre a “crise ucraniana” e garante que quer resolvê-la por meios políticos e diplomáticos.
Nas conversações entre Pequim e Moscovo participam também os ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa russo e chinês para abordarem a cooperação militar e as relações políticas e económicas, que ambos os países consideram estratégicas.
Reação ao mandado do TPI
O encontro entre os líderes russos e chineses acontece após a emissão pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) de um mandado de captura contra Vladimir Putin, pela deportação ilegal de menores do território ocupado pelas tropas russas na Ucrânia, o que o tribunal considera um crime de guerra.
O Kremlin já reagiu, argumentando que o mandado é “legalmente nulo e sem efeito”, uma vez que a Rússia não reconhece a jurisdição do TPI.
O antigo presidente russo Dmitry Medvedev, atualmente vice-presidente do Conselho de Segurança Nacional, disse que o Tribunal de Haia poderia ser alvo de um ataque com mísseis russos.
“Pode-se muito bem imaginar um ataque de alta precisão com um míssil hipersónico russo Oniks de um navio russo no Mar do Norte contra o edifício do tribunal em Haia”, escreveu na rede social Telegram, exortando os juízes do TPI a “olharem cuidadosamente para o céu”.