Em 2019, Macau terá um novo Governo e comemora aniversários históricos: 20 anos do regresso à administração do território por Pequim, 40 do estabelecimento de relações diplomáticas sino-lusófonas e 70 anos da fundação da República Popular da China.
No próximo ano assinalam-se datas de grande simbolismo para um território que vive sob o paradigma de «um país, dois sistemas» e que coincide com as eleições do chefe do Executivo de Macau e, consequentemente, à formação de um novo Governo, marcando o fim de um ciclo.
Após décadas de transformação profunda, aquele que é hoje o palco mundial do jogo e a plataforma chinesa para gerir as relações entre Pequim e os países de língua portuguesa comemora os 20 anos do retorno à mãe-pátria.
Uma data que coincide em 2019 com o assinalar dos 40 anos do estabelecimento de relações diplomáticas entre Lisboa e Pequim, bem como pelo facto do Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, ter agendada uma visita de Estado à China em abril, marcando presença na segunda edição do fórum “Uma Faixa, Uma Rota”.
Ainda se desconhece o itinerário de Marcelo Rebelo de Sousa, mas a comunidade portuguesa no território acredita que o Presidente português não deixará de visitar Macau, à semelhança do que aconteceu com os seus antecessores sempre que se deslocaram à China.
Sob o pano de fundo dos 70 anos da fundação da República Popular da China e dos 40 anos do regresso de Macau a Pequim, o território vai procurar acelerar a integração na estratégia nacional da mãe-pátria, nomeadamente com a inclusão no projeto de criação de uma metrópole mundial que vai unir territórios chineses que possuem tantos habitantes como França.
Em causa está o reforço das parcerias entre Macau, Hong Kong (outra Região Administrativa Especial) e nove localidades da província de Guangdong (Cantão, Shenzhen, Zhuhai, Foshan, Huizhou, Dongguan, Zhongshan, Jiangmen e Zhaoqing), com cerca de 68 milhões de habitantes.
Um verdadeiro desafio para as autoridades de Macau, em termos industriais, nas políticas de promoção do turismo, ao nível da segurança, mas também na estratégia chinesa de adoção de um modelo que permita a livre circulação de bens e pessoas.
Dois outros desafios são encarados pelo Governo e instituições de Macau como fundamentais e aos quais deve ser dada uma resposta em 2019, sempre inscritos no paradigma do papel e do estatuto ‘desenhado’ pela China para o território como plataforma das relações comerciais entre Pequim e os países lusófonos: a formação de quadros bilingues e o reforço na promoção e investimento do negócio da Medicina Tradicional Chinesa.
A carência de quadros bilingues (chinês/português) é uma preocupação diversas vezes tornada pública, tanto por representantes do Governo de Macau como por instituições cuja missão passa precisamente pela sua formação.
De resto, as próprias Linhas de Ação Governativa (LAG) para 2019 apontam uma série de medidas de incentivo que permitam contribuir para a formação de quadros considerados essenciais para o reforço e aprofundamento das relações económicas entre a China e os países de língua portuguesa.
Já a estratégia de ‘exportação’ da Medicina Tradicional Chinesa para os países lusófonos, utilizando também Portugal como porta de entrada para a Europa, é encarada como um dos eixos centrais de atuação para 2019 pelas autoridades de Macau.
A aposta tem sido marcada por algum sucesso nos países africanos de língua portuguesa, sobretudo na formação de médicos e terapeutas, com Macau a definir um plano até 2019 que abrange a obtenção de licenças de comercialização de medicamentos e a criação do Centro de Medicina Chinesa de Moçambique.
A saída do chefe do Governo, Chui Sai On, em 2019, vai acontecer um ano antes das autoridades de Macau terem de tomar uma decisão sobre as licenças do jogo.
Em 2020, duas das seis licenças expiram, as restantes apenas em 2022. Durante a apresentação das LAG, Chui Sai On deixou claro que em 2019 o Governo de Macau vai limitar-se a fazer os «trabalhos preparativos», deixando a decisão para o futuro Governo, naquele que é um dos pontos mais sensíveis para o território, a capital do jogo mundial e que continua a bater recordes de receitas.