“Uma pandemia de corpos e cérebros” é como o neurocientista francês Michel Desmurget avalia os efeitos nefastos da excessiva exposição dos mais jovens aos ecrãs.
Para o autor do livro “A Fábrica de Cretinos Digitais”, os nossos filhos “representam a primeira geração a ter um QI inferior ao dos pais”. Uma afirmação forte que o investigador aqui fundamenta em entrevista, ao discorrer sobre uma indústria global do digital que nos aprisiona e diminui. Desmurget é claro: “o défice é tão forte que parece representar, nada menos, do que uma ameaça à democracia”.
“Quando a minha filha digitou no Google a pergunta ‘o que aconteceu aos dinossauros?’, quatro, dos cinco primeiros links, apontavam para páginas criacionistas”. A resposta que a rede devolveu à filha do neurocientista francês Michel Desmurget conseguiu espantar o homem que, há décadas, pensa e pesquisa o efeito que a televisão e a exposição aos ecrãs de todo o tipo produzem na nossa saúde e no desenvolvimento cognitivo, em especial na infância e adolescência.
Para Desmurget, as novas gerações estão prisioneiras de um mundo dominado pelos novos oráculos do século XXI, os ecrãs e a realidade que constroem. No livro que lançou em Portugal no final de 2021, A Fábrica de Cretinos Digitais (edição Contraponto), Desmurget amplifica a frase que soou lapidar numa entrevista que concedeu à BBC: “os nativos digitais são os primeiros filhos a terem um QI inferior ao dos pais”.
De acordo com o também diretor de investigação do gaulês INSERM – Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica, o tempo que as novas gerações levam a interagir com smartphones, tablets, computadores e televisão é elevadíssimo. Em média, três horas por dia no caso das crianças de dois anos, em países ocidentais. Seis horas em média, por dia, nos jovens entre os 13 e os 18 anos. O autor, nascido em 1965, traça um cenário doloroso a propósito dos efeitos que o consumo desmedido de ecrãs com o fim recreativo está a ter no cérebro dos nossos filhos.
Desmurget sublinha que ao contrário do que se pensava, a profusão de ecrãs a que as crianças e jovens estão expostos não lhes melhora as aptidões. Pelo contrário, acarreta efeitos nefastos na saúde física e intelectual.
Na entrevista ao Sapo Lifestyle, o neurocientista apresenta-nos os porquês para vivermos uma “pandemia de corpos e cérebros passivos”, aprisionados em ecrãs.
Fonte: Por Jorge Andrade, Sapo Lifestyle