A polémica dura desde que a Organização de Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), uma entidade criada durante a Guerra Fria para aproximar os dois blocos, de leste e ocidental, com sede em Viena, decidiu convidar 18 membros da Duma russa para a sua assembleia parlamentar deste ano.
Embora façam parte da lista de indivíduos sancionados e banidos de entrar no território da União Europeia, o governo austríaco passou vistos para lhes permitir a presença em Viena.
A Áustria invocou o seu estatuto de neutralidade e a necessidade de manter “a via diplomática”, para deixar que neste dia 24, em que se completa um ano da invasão russa da Ucrânia, os russos se sentassem numa sessão solene no Palácio Hofburg, com os seus contrapartes europeus.
Curiosidade: O Palácio Hofburg, onde é a sede da OSCE, foi a morada da dinastia dos Habsburgo até à I Guerra Mundial e numa das suas varandas Hitler anunciou a anexação do país pelo III Reich.
Como disseram os ucranianos ao navio russo na Ilha das Serpentes
A Rihards Kols, um deputado da Letónia – país que durante cinco décadas sofreu uma brutal anexação russa – saltou-lhe a tampa, como se diz em português coloquial, e mandou-os “f….”. “É uma desgraça que esta delegação esteja aqui, particularmente a delegação que consiste em indivíduos que estão sancionados, e que votaram para anexar o território de um país independente. E estamos aqui sentados como se nada tivesse acontecido”, disse o letão, expressando a sua indignação na sala.
E acrescentou, visivelmente perturbado: “Vou usar esta oportunidade, e as minhas desculpas senhor presidente, mas vou enviar uma mensagem à delegação russa sentada nesta sala, e vou usar as palavras dos guardas de fronteira ucranianos para um navio de guerra russo: ‘Vão-se f….’. Kols invocava as palavras dos guardas na ilha das Serpentes quando um torpedeiro russo enviou uma mensagem a pedir-lhes para depor as armas e entregarem-se, senão seriam bombardeados. Os guardas responderam, numa mensagem que se tornou viral e que marcou a atitude corajosa dos ucranianos ao longo de meses de guerra: “Ó navio de guerra russo, vai-te f….”.
A decisão de Viena manter o convite aos russos, apesar de vários países europeus pedirem para reconsiderar, levou à publicação de uma carta aberta de 100 individualidades austríacas a pedir para o país rever a sua política de neutralidade e as suas responsabilidades para com a Ucrânia. Até agora, a Áustria não enviou equipamento militar à Ucrânia, invocando esse estatuto que dura desde 1955.
“A Áustria está a agir como se o mundo tivesse parado a 23 de fevereiro, de 2022”, escrevem os signatários da carta, onde também se defende que a posição de Viena “é internacionalmente ridicularizada por uns, e considerada sem caráter por outros”. Entre os autores do documento encontra-se o antigo vice-presidente do Parlamento Europeu Othmar Karas.