O setor das algas começa a desenvolver-se na Europa para responder à procura crescente de alimentos e à necessidade de adotar métodos de produção mais sustentáveis.
Em Portugal, a Allmicroalgae, uma empresa de Pataias, desenvolve vários produtos alimentares à base de pó de algas, como biscoitos, pão, aperitivos e também biofertilizantes naturais e ração animal.
A produção de algas para fins alimentares começa no laboratório num pequeno tubo de ensaio. Depois, as algas são transferidas para um recipiente maior para continuarem a crescer.
“O que fazemos aqui neste laboratório é a analítica que nos permite avaliar se o crescimento está a ser bom ou mau nos reatores. Quer em termos de fermentação quer em temos de autotrofia. Neste caso, temos este equipamento que é relativamente recente na unidade. Precisamos de conhecer cada vez mais o que acontece dentro da célula, o que nós chamamos de metabolómica da célula para determinar a chamada proteína total, o magnésio consumido dentro do meio nutritivo, o ferro e vários micro e macronutrientes essenciais para o cultivo e que me permitem otimizar o consumo de nutrientes por parte das algas”, afirmou Joana Silva, gestora técnica do Departamento de Investigação e Desenvolvimento da Allmicroalgae.
Para obter um bom rendimento em termos de biomassa, o cultivo de algas implica procedimentos precisos. Depois da fermentação, com base em leveduras tradicionais como as que são usadas na produção de cerveja, a cultura é injetada em grandes fotobiorreatores, para poder crescer. Finalmente é transformada num pó fino.
“Existe uma semente, um inóculo que vai inocular outro reator, cada vez com maior volume até termos um conjunto de células significativo que compense fazer o processamento. Esse processamento normalmente é concentrar esse conjunto de células e das duas uma: ou produzimos uma pasta concentrada, por exemplo para o mercado da aquacultura, ou produzimos um pó que usamos na nutracêutica como ingrediente ou suplemento alimentar”, acrescentou Joana Silva.
O interesse da indústria alimentar pelas microalgas tem vindo a crescer, devido aos novos hábitos dos consumidores. Trata-se de uma produção sustentável e o consumo de algas pode ter um impacto importante na área da saúde.
“A nossa produção da proteína de origem vegetal vai permitir entrar em algumas áreas da alimentação humana sem ser a vegetariana ou a vegan. Há uma parte muito interessante que ainda não está desenvolvida que é a alimentação clínica ou médica, para aquelas pessoas que estão doentes com cancro ou com outras doenças similares, ou que têm dificuldade em ingerir produtos com proteína elevada”, explicou Júlio Abelho, diretor da Allmicroalgae.
No âmbito da estratégia “do prado ao prato”, a Comissão Europeia pretende favorecer a indústria das algas e deverá apresentar uma iniciativa específica para apoiar o setor até meados de 2022.
“É extremamente importante encontrar fontes alimentares alternativas, que sejam por um lado sustentáveis, mas, por outro lado, que tragam também benefícios nutricionais para as pessoas. As microalgas são ingredientes extremamente importantes porque são ricos quer em proteína quer em compostos bioativos e por isso são uma fonte nutricional extremamente importante e que podem ser aplicada em diversas matrizes alimentares”, disse Anabela Raymundo, investigadora do Centro de Investigação LEAF (Linking Landscape, Environment, Agriculture And Food), do Instituto Superior de Agronomia, da Universidade de Lisboa.
Há dezenas de milhares de espécies de algas, que vivem tanto em água doce como no mar. As macroalgas constituem 20% das espécies existentes, 80%a das algas são microalgas. As algas contêm aminoácidos essenciais, ácidos gordos essenciais, incluindo ómega 3, ómega 6, ómega 7 e vitaminas A, D e E. Atualmente, as algas mais consumidas são a Clorela e a Espirulina.