Foi na passada sexta-feira (15), que o funcionário consular Valdeir Pinto Carvalho dirigiu uma carta ao Governo português, com um “pedido urgente de ajuda”.
No documento, publicado no Mundo Lusíada, o responsável denuncia o total “descanso” por parte do Estado português e a “falta de apoio do Sindicato da categoria”.
Leia a carta na íntegra:
“Em novembro de 2021, o Mundo Lusíada publicou uma carta assinada por mim, quando naquela altura falei da situação “desumana e estado de calamidade salarial” que eu e vários outros colegas, trabalhadores da Embaixada e dos Consulados de Portugal no Brasil, estávamos a passar e a viver.
Mas, até hoje, e após várias promessas do STCDE e do MNE, NADA FOI RESOLVIDO e continuamos na mesma situação, a cada dia ficando mais pobres, velhos, cansados, desmotivados e o pior de tudo, doentes e com problemas psicológicos, por causa dessa situação angustiante e o stress provocado pela falta de dinheiro para cumprir com as obrigações, pagar as contas e por comida dentro de casa.
Tudo isso porque recebemos os salários no dia 20 de cada mês, congelados há vários anos [desde 2013] e no dia seguinte já acabou, não sobra nada e não temos mais onde cortar gastos, devido a vivermos num país onde a inflação é altíssima, tudo aumenta, menos os nossos salários.
Infelizmente, eu não tenho mais o privilégio de procurar um novo emprego e muitos outros colegas também, porque eu por exemplo, após mais de 30 anos de trabalho e dedicação ao Consulado, não sou mais jovem, eu já estou a chegar aos 60 anos e não tenho condições e nem saúde para começar uma nova carreira profissional.
Após vários anos de trabalho, esperava que no final de carreira, teria uma vida digna e confortável, para mim e a minha família, mas não é isso que está a acontecer, por causa dessa injustiça criminosa, que estão a fazer com todos nós e não podemos fazer nada sem o apoio do STCDE.
Para tentar ajudar o sindicato a por um fim nessas negociações que já duram longos 9 anos, em 18 de maio deste ano, foi publicado no importante jornal Mundo Lusíada, um manifesto de intenção de greve geral a partir 6 de junho de 2022, que foi assinado por mais de 95 % dos funcionários da Embaixada e dos Consulados de Portugal no Brasil, mas o STCDE não apoiou a decisão da maioria absoluta de seus associados e não quis decretar a “GREVE GERAL”, e apresentou-nos mais uma promessa de ajuda, que não foi cumprida pelo o MNE até hoje.
Pergunto, será que, se a Secretaria-Geral e os dirigentes do STCDE morassem e trabalhassem num dos Consulados de Portugal aqui no Brasil, a viver e a passar por tudo aquilo que estamos a passar há vários anos com esta situação salarial, dramática e insustentável, isso já não teria sido resolvido?
Mas felizmente, eles moram e trabalham na Europa e não num país onde a inflação é altíssima e o custo de vida sobe todos os dias.
Quero aproveitar para informar a todos, que nós não estamos a reivindicar e nem a pedir aumento salarial, apenas queremos que os nossos salários sejam incluídos na tabela salarial em euros conforme todos os outros funcionários e colegas do mundo inteiro e que sejam pagos os nossos salários em reais, ao câmbio do dia do pagamento, ou seja o câmbio atual, conforme é feito com a tabela de emolumentos consulares são atualizadas mensalmente e os utentes pagam por qualquer serviço nos Consulados ao valor do câmbio atual e não o de 2013 ao valor R$ 2,63.
Por tudo o que foi exposto acima, venho solicitar por favor a gentileza a todas as autoridades competentes, a imprensa, ao Sindicato, ao público em geral, principalmente aos utentes que nos apoiam e nos ajudem a resolver urgentemente, esta situação salarial, dramática e insustentável que nós trabalhadores vinculados aos serviços externos do MNE estamos a passar aqui no Brasil, onde somente os salários estão congelados desde 2013″.
Atenciosamente,
Valdeir Carvalho
Funcionário consular no Brasil