O Nobel da Paz, José Ramos-Horta, afirmou que a melhor forma de unir os povos lusófonos “é aumentar o conhecimento que têm uns dos outros”, e sugeriu, para isso, a criação de uma televisão “online” para os jovens dos nove Estados-membros da CPLP.
Ramos-Horta falava numa entrevista gravada e exibida em vídeo no V Congresso da SEDES – Associação para o Desenvolvimento Económico e Social, que decorreu entre 3 e 5 de dezembro em Carcavelos, concelho de Cascais.
Para o Nobel da Paz, “a organização lusófona deve concentrar-se primeiro no esforço da expansão da língua portuguesa, no enraizamento da língua portuguesa”, mas também na área da educação, da saúde publica, na área da investigação médica, na área das vacinas.
E para isso “é preciso criatividade”, afirmou, sugerindo a criação de “uma televisão “online” para jovens”.
“Quando há um programa da CPLP, os jovens sentem curiosidade e vão para o “tablet” ou telemóvel fazem “clique” para ver o programa, para ver como vivem os povos nas aldeias em Moçambique, ou os sertanejos do Brasil, ou nas aldeias de Timor”, afirmou.
Mas, “se for ao Brasil, quantos brasileiros sabem o que é a CPLP ou ouviram falar sequer de Timor-Leste”, questionou.
Assim, para Ramos-Horta, a melhor forma de unir os povos lusófonos é aumentar o conhecimento que têm uns dos outros, e essa televisão “online”, que o entrevistador comparou a uma “netflix lusófona”, seria a resposta.
“É preciso unir primeiro todas essas comunidades através da nossa inteligência e criatividade, fazendo uso das tecnologias da comunicação do século 21, e não “através de reuniões de burocratas de ministros de turismo ou da defesa”, defendeu.
Questionado, num painel sobre o futuro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), sobre a intenção da presidência rotativa angolana da organização lusófona de intensificar a sua componente económica, Ramos-Horta lembrou que “esta dimensão da CPLP é defendida há muito”, mas “a realidade é que a CPLP não vai ter uma grande dimensão económica”.
O ex-Presidente timorense lembrou que mesmo Portugal, que tem uma presença diplomática forte em Timor-Leste e que tem relações fraternas profundas com Díli, “não tem um grande investimento” no país.
Para Ramos-Horta, a integração económica dos países da CPLP deve ser feita “nos seus mercados regionais”.
“Sentimentalismos à parte, cultura e romantismos à parte, cada um de nós tem de se habituar à sua região, como Portugal faz na União Europeia”, disse, lembrando que Timor-Leste se prepara para aderir à Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), um mercado económico de 700 milhões de pessoas e com um PIB conjunto de quase três biliões de dólares.