Na sequência do anúncio de que o Banco Central Europeu (BCE) volta a aumentar as taxas de juro, este mês de julho, Ana Gomes declarou que há “falta de sentido” das políticas do BCE, numa altura em que a inflação tem estado a descer.
“Estas políticas de parte do BCE, de aumento sucessivo das taxas de juro, sem olhar para as famílias, estão a gerar recessão e, agora, até com dados de outros países, incluindo o nosso, a taxa da inflação está a descer, mas ela não tem diretamente a ver com a taxa de juro. A senhora Lagarde, que se atrasou a identificar o problema da inflação, vem dizer isto em desacerto do que são as necessidades das nossas economias”, começa por dizer a ex-eurodeputada no seu espaço de comentário na SIC Notícias, declarando que “quem lucra com as subidas das taxas de juro é quem tem capital e vai continuar a amealhar”, como o caso dos bancos.
“Quem se lixa é o mexilhão, são as famílias, é a classe média em particular”, acrescenta Ana Gomes.
A socialista refere ainda os “apoios pontuais” anunciados por Lagarde às famílias mais vulneráveis, considerando que a situação “acaba por arrasar com as classes médias” e “fazer o jogo político da extrema-direita”.
Sobre o anúncio da presidente do BCE de que a inflação tem a ver com os aumentos salariais, Ana Gomes considera que “não é verdade”.
“Isto é comprovado por vários observadores, incluindo o próprio BCE. Em março, técnicos do BCE chegaram à conclusão de que, de facto, o que determina a espiral inflacionista é o abuso da situação por aqueles que fazem lucros, designadamente as grandes empresas distribuidoras, os bancos, etc. É isso que também vem dizer o próprio FMI, como dizem as agências Bloomberg e a Reuters, em suspeitas de esquerdismo, que é o aumento dos lucros que aumenta esta espiral inflacionista e não ao aumento dos salários”, salienta a socialista, esperando que os líderes nacionais “atuem em conformidade” depois de ver esta “luz”, nomeadamente no que diz respeito à sua “interação com os bancos”.
“No sentido de não continuar a repercutir nas famílias, com implicações dramáticas, que num ano viram a taxa de esforço subir dramaticamente e a prestação da casa duplicar”, considerou.
De recordar que no Fórum do Banco Central (BCE), que se realizou em Sintra na semana passada, Christine Lagarde reafirmou que a inflação na zona euro é demasiado elevada e continuará a sê-lo durante demasiado tempo, sendo que o compromisso do banco central em atingir a meta de inflação de 2% se mantém.
A presidente do BCE reafirmou o sinalizado na última reunião do Conselho de Governadores deste mês: “Exceto se ocorrer uma alteração substancial das perspetivas de inflação”, o banco central continuará “a aumentar as taxas em julho”.
O anúncio criou burburinho, tendo o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa se mostrado “muito curioso para perceber qual é a posição dos banqueiros, sobretudo os banqueiros centrais” sobre a inflação.
Também o primeiro-ministro António Costa criticou posição do BCE sobre inflação, defendendo que não tem havido suficiente compreensão por parte do BCE e não “compreende a natureza específica” do ciclo inflacionista, que “limita muito a capacidade de o enfrentar”.