Entramos em Tomar ao som de Lady Gaga e de “Bloody Mary” a tocar nos altifalantes da Ponte Dom Manuel. O hino da cantora norte-americana à “força feminina” não parece aqui totalmente descabido se pensarmos na demonstração de firmeza e garbo que atravessou a cidade no domingo, quando centenas de mulheres vão erguer e carregar os famosos tabuleiros, pesando mais de 30 quilos, sob as suas cabeças ao longo de 5 quilómetros.
São esperados centenas de milhares para acompanharem o Cortejo dos Tabuleiros no seu percurso pela cidade, mas na sexta-feira ainda reinava a tranquilidade no centro histórico de Tomar, por estes dias embrulhado em papel. Um pouco por todo o lado, visitantes tiravam fotografias aos milhões de adereços em forma de flores, animais e outros motivos que levaram um ano a ser moldados à mão (e uma semana a ser montados) pelos moradores de cada rua.
Segundo a organização, as decorações envolvem a produção artesanal de “milhões” de flores de papel.
O resultado é este, ruas inteiras cobertas de uma ponta à outra por ornamentos de papel que flutuam ao sabor do evento e proporcionam alguma (desejada) sombra nas horas de maior exposição solar.
A maioria do comércio local participa na ornamentação das ruas da cidade, decorando as suas fachadas com flores de papel
A rua Pedro Dias escolheu o arco-íris como tema das suas decorações e, a avaliar pela quantidade de selfies, parece ter sido um sucesso com os visitantes.
À entrada da Rua da Cascalheira, decorada em tons verdes e rosas, para celebrar o rio Nabão e a lenda de Santa Iria e nem sequer falta a garça-real que costuma ser avistada nas margens do rio Nabão no centro de Tomar.
“Levamos um ano a preparar os ornamentos de papel”, diz-nos uma das moradoras da rua da Cascalheira que participou na sua decoração.
O tabuleiro é o símbolo e a razão por a Festas do Espírito Santo se chamar, em Tomar, de Festa dos Tabuleiros. Durante o cortejo, é transportado por uma rapariga vestida de branco, com a mesma altura que o tabuleiro.
O tabuleiro é decorado por flores de papel colorido, espigas de trigo, 30 pães, de 400 gramas cada, enfiados em canas que saem de um cesto de vime envolvido por um pano branco bordado. O topo do tabuleiro é ainda composto por uma coroa encimada pela Cruz de Cristo ou a Pomba do Espírito Santo.
Falamos da rua Pedro Dias, ou “a rua do arco-íris”, que atraía uma sucessão ininterrupta de selfies nas suas pontas. Ao fim de quatro anos de espera pela próxima Festa dos Tabuleiros, com uma pandemia e guerra pelo meio, os moradores dali escolheram mandar uma mensagem de amor e paz através das cores do arco-íris.
Depois da angústia e do afastamento que motivou o “vamos ficar bem”, Tomar escolhe dizer, como se lê num dos letreiros da colorida rua, “estamos bem”. Quem visitava ontem a cidade templária, no momento mais exuberante e festivo do seu calendário, tinha bons motivos para ficar convencido disso.