Há 23 anos que o Partido Socialista não ganhava no círculo eleitoral da Europa de forma plena, elegendo os dois deputados e deixando o PSD a zeros. A última vez que isso aconteceu era então Primeiro-Ministro António Guterres, ministro dos Negócios Estrangeiros Jaime Gama e secretário de Estado das Comunidades José Lello. Nesta vitória esmagadora está o legado de José Lello, um dos melhores secretários de Estado das Comunidades de sempre e a quem essencialmente se deveu a vitória retumbante no círculo da Europa em que eu fui eleito pela primeira vez.
Ao longo de toda a história do PS, tive a imensa satisfação e orgulho de fazer parte dos dois eleitos nas duas únicas vezes em que o partido elegeu os dois deputados no Círculo da Europa. E, claro, o meu pensamento vai sempre para o meu querido e saudoso amigo José Lello, a quem dedico esta vitória.
A repetição das eleições num círculo eleitoral, como agora aconteceu com a Europa, no entanto, é a primeira que acontece na história da nossa democracia. E dela podem tirar-se várias lições, tanto para os partidos políticos, e particularmente para o PSD, como para o sistema eleitoral, que naturalmente precisa de ser alterado.
E a primeira lição é que o tempo dos esquemas para controlar os votos já está ultrapassado. Os eleitores na Europa demonstraram que não estão a dormir e que exigem ser respeitados. A sua resposta foi bem clara e deu-se a grande ironia do destino que a candidata do PSD, depois de ter sido eleita, acabou na repetição das eleições por ficar de fora do Parlamento. Como diz o ditado popular, foram à lã e saíram tosquiados.
Seja em que circunstâncias for, todos os eleitores merecem respeito, e devem ser tratados de forma honesta, transparente e sem subterfúgios. Com efeito, se o argumento legal fosse tão determinante para o PSD, então não teriam aceite uma dualidade de critérios em relação aos círculos da Europa e de Fora da Europa. Além disso, é bastante revelador, por ser um elemento central para compreender esta história, que os delegados do PSD tenham tentado retirar o protesto que levou à anulação de 157 mil votos no final da contagem, já depois da meia-noite, para que fossem validados todos os votos e não houvesse os problemas que depois vieram a acontecer com a repetição das eleições.
E, por isso mesmo, o PSD tentou desesperadamente empurrar as culpas para quem não as tinha e de uma maneira que não honra a ação política, faltando à verdade em várias declarações públicas e apresentando queixas-crime contra os membros das mesas. Mas os eleitores perceberam bem quem esteve do lado daqueles que sempre lutaram pelo respeito e consideração por todos votos e pela vontade de participarem nas eleições, dando ao PS uma retumbante maioria absoluta que levou à irradiação do PSD no círculo da Europa.
Mas há outra lição a tirar. No compromisso já assumido pelos vários partidos desde 2019, incluindo o PS, uma das principais alterações terá de incidir sobre a exigência de uma cópia do cartão do cidadão para confirmar a identidade do eleitor. E isto é relevante porque, mesmo depois da polémica e trágica anulação das eleições, ainda houve cerca de 30 por cento dos eleitores que voltaram a não incluir uma cópia do cartão do cidadão, o que não deixa de revelar uma anomalia no sistema de votação. Mas, ao mesmo tempo, não se pode ignorar a vontade que todos esses eleitores demonstraram de querer participar na escolha dos seus representantes, através do seu voto.