A onda de calor recorde que afetou Portugal nos últimos dias é o prenúncio das mudanças climáticas e os incêndios florestais devem-se, principalmente, a má gestão, concordaram especialistas.
De acordo com o geofísico e investigador ambiental Filipe Santos, a onda de calor devastou Portugal mais severamente porque ocorreu durante um período de seca intensa e as chuvas nos últimos dez meses só tinham sido metade do normal para esta época do ano.
“As secas extremas estão a tornar-se mais comuns e graves, não só na região mediterrânea da Europa, mas também em todo o mundo”, explicou.
Além das mudanças climáticas, “em Portugal a agricultura e a silvicultura não estão devidamente integradas devido, principalmente, à migração da população para as regiões costeiras do país”.
“As florestas perderam o seu valor económico. Cerca de 20% da área terrestre de Portugal está abandonada, ninguém sabe quem são os proprietários”, acrescentou.
Também o investigador principal no Instituto D. Luiz da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Pedro Soares, alertou para a diminuição significativa das chuvas nos últimos anos.
“As análises climáticas apontam para a evapotranspiração (perda de água do solo por evaporação e transpiração das folhas) e a diminuição acentuada das chuvas como os principais culpados pelo aquecimento global”, referiu.
“A melhor maneira de minimizar os efeitos negativos é adotar uma política de ação climática e intensificar a redução das emissões de gases de efeito estufa através da implementação mais séria dos acordos internacionais existentes”, disse.
“Cada indivíduo pode contribuir por optar por tipos mais sustentáveis de mobilidade e consumo de energia e alimentos mais eficientes”, acrescentou.
Já Helena Freitas, professora de biodiversidade e ecologia da Universidade de Coimbra, adiantou à Xinhua que “grande parte das florestas de Portugal estão desorganizadas, desvinculadas da sociedade e muitas acabaram por ficar abandonadas”, referiu.
“Quase 80% da população em Portugal vive dentro de 50 quilómetros da costa porque não há economia que gere valor para manter as pessoas em áreas rurais no interior”, frisou.
Para Filipe Santos, “uma forma de utilizar terras abandonadas seria plantar árvores de alta qualidade”.
“É preciso valorizar a contribuição das florestas para o ciclo da água. As árvores mantêm água no solo, evitam a erosão e capturam dióxido de carbono (CO2) da atmosfera, reduzindo assim os gases do efeito estufa e as mudanças climáticas”, vincou.