Quando João Pinheiro apita para o final, Sérgio Conceição é expulso por protestos (daí que falhe a flash-interview) e o Benfica mantém a invencibilidade em 2022-23, a quatro dias do compromisso europeu vs Juventus, na Luz, onde lhe basta um empate para se apurar rumo aos oitavos de final.
Seis pontos de avanço, eis a vantagem do Benfica na ressaca da sua quarta vitória em 19 jogos no Dragão para a 1.ª divisão, por obra e graça de um golo solitário golo de Rafa aos 72 minutos.
O FC Porto entra mais determinado, é o chamado fator casa. O Benfica joga muito junto entre os sectores e só permite veleidades aos 16 minutos, quando Zaidu se escapa pela esquerda e cruza, apertado por Bah e quase na linha de fundo, para um cabeceamento de Taremi, superiormente afastado com uma palmada por Vlachodimos. Que voo, que monumento. Em câmara lenta, os olhos bem abertos de Odysseas dizem tudo. Concentração e eficácia. Por ali, o FC Porto não tem hipótese.
O Benfica acorda aos 23 minutos com grande receção de Grimaldo a uma abertura longa de Enzo. O espanhol avança, enquadra-se e centra com conta, peso e medida para Rafa. O cabeceamento é frouxo para mãos de Diogo Costa. Se fosse um avançado à maneira, o Benfica já estaria em vantagem.
Prepare-se agora para uma sequência de Bah. Aos 24’, Bah sofre falta de Eustáquio e o portista vê o inevitável amarelo. Aos 25’, Bah tenta surpreender Diogo Costa com um cabeceamento dentro da área e a bola sai ligeiramente por cima. Aos 26’, Bah é vítima de outra pisadela de Eustáquio, inevitavelmente expulso com duplo amarelo. Nada a fazer, Eustáquio erra duplamente em menos de 180 segundos e vai para a rua.
Até ao intervalo, o FC Porto nunca mais se aproxima da baliza de Vlachodimos e o Benfica atira uma bola ao poste e outra à trave na mesma jogada. Aursnes foge pela esquerda e, já no limite da pequena área, atira ao poste. A bola embate nas costas de Diogo Costa e ressalta para o meio da baliza, onde Rafa cabeceia ao ferro. Incrível, e verídico.
Para o reinício, o treinador benfiquista Roger Schmidt mexe na equipa com coragem. Tira Bah, já amarelado e muito pressionado pelo banco do FC Porto em duas jogadas seguidas nos descontos da primeira parte, e mete Gilberto. Saca João Mário, desaparecido em combate, introduz David Neres para dar velocidade. E substitui Enzo por Draxler.
O plano vai por água abaixo por culpa de uma lesão muscular de Draxler. Entra então Musa, aos 63’, num período de futebol sem balizas e muito arreganho no meio-campo. Só há movida aos 69’, no momento em que António Silva falha um corte e Gilberto quase faz autogolo. Vale o de sempre, Vlachodimos. Que defesa, mais uma.
No quadradinho seguinte, o golo de Rafa. Jogada pela esquerda, tabelinha com Neres e remate imparável ao poste mais distante, com Otávio na cobertura e David Carmo a fazer de guarda-redes. O árbitro João Pinheiro anula o lance por fora-de-jogo e é chamado ao VAR. Bem vistas as coisas, quando Rafa liberta Neres, o central Fábio Cardoso coloca o brasileiro em jogo pelos tais 54 centímetros. É golo, Rafa festeja-o a sério e Gonçalo Ramos deixa-se ficar no meio-campo do FC Porto até ser enxotado por Taremi com um empurrão – é a única cena tonta de um clássico sem incidentes, com 33 faltinhas de chacha.