A costa alentejana entre Tróia e Melides está a fervilhar de projetos residenciais e turísticos, num investimento global que ultrapassa os 3 mil milhões de euros. Não faltam compradores nacionais e estrangeiros.
A Comporta é uma das zonas mundiais mais trendy do momento. Capaz de competir nos mercados internacionais com destinos como Ibiza ou Sotogrande, em Espanha, e também com a glamorosa Miami.
A região captou o interesse dos grandes promotores imobiliários e as agências do setor não perderam tempo em acompanhar este movimento.
Há mais de uma dezena de projetos em desenvolvimento ou em fase de licenciamento, num investimento global superior a três mil milhões de euros, de empresas francesas, norte-americanas, espanholas e também nacionais. Interessados não faltam. Os portugueses são uns dos principais compradores, mas a região, que ainda recentemente foi considerada um dos cinco destinos mundiais preferidos dos investidores imobiliários, está a captar cada vez mais o interesse dos estrangeiros.
É que a Comporta tornou-se num dos hotspots mais chiques e internacionais do país. As razões são várias. É o mistério que envolve esta linha do litoral alentejano, onde membros da nobreza europeia já se refugiaram diversas vezes dos holofotes mediáticos, as praias a perder de vista, que lembram um paraíso inexplorado envolto num ambiente de luxo exclusivo, ou as celebridades que compraram um pedaço de paz por estas terras.
É fácil lembrar as imagens da cantora pop Madonna a passear a cavalo naqueles areais, das páginas de jornal que o reconhecido designer Christian Laboutin encheu com as suas férias na Comporta ou com a casa, que entretanto adquiriu em Melides, das festas da família Espírito Santo… E todo esse glamour associado a um estilo de vida simples, mas chique, não para de captar atenções. Como diz Patrícia Clímaco, CEO da imobiliária de luxo castelhana, “a Comporta triunfou como marca a nível internacional” e não se circunscreve à freguesia onde a par do sol e mar, predominam os arrozais, estendendo-se de Troia a Melides.
A oferta de imóveis permanece ainda escassa e, por isso, os projetos que estão em desenvolvimento têm registado uma grande recetividade. Prova disso foi o êxito na comercialização das 50 quintas que integram o projeto Muda Reserve, da francesa Vanguard Properties. Os lotes com cerca de cinco hectares e com uma área de construção até 500 metros quadrados (m2) e 100 m2 de alpendres, estão totalmente vendidos, apesar de lançados no primeiro ano de pandemia. Segundo José Cardoso Botelho, CEO da Vanguard, “o custo médio de uma quinta construída andará entre os 2,2 e os 3,5 milhões de euros”, orçamentos que não assustaram portugueses, mexicanos, polacos, suíços e norte-americanos, as principais nacionalidades compradoras.
Também o grupo Pestana viu o seu mais recente empreendimento em Brejos da Carregueira de Baixo coroado de sucesso e só agora em outubro é que vai iniciar as obras de infraestruturas. O condomínio residencial privado integra 59 lotes, com áreas entre 400 e 1200 m2. E, sustentado num conhecimento de vários anos da região, “continua aberto a novas oportunidades nas áreas imobiliárias e turísticas”, adiantou fonte oficial.
A Vanguard tem ainda em carteira o projeto Torres da Comporta, que engloba os loteamentos Torre, em Alcácer do Sal, e o Dunas, em Grândola, num total de 1367 hectares e mais de 2,3 mil milhões de euros de investimento previsto. O Dunas, onde a promotora francesa conta com a Amorim Luxury como parceira, tem neste momento a decorrer as obras de infraestruturação. O plano integra o desenvolvimento de um conjunto de hotéis, condomínios turísticos e residenciais, assim como zonas de apoio como áreas desportivas e comerciais, numa lógica de baixa densidade de construção. O Torre, que irá ocupar uma área de 356 hectares, irá também apostar numa componente hoteleira, a que se juntarão residências turísticas e 245 lotes para construção de moradias. Segundo Cardoso Botelho, este “é o maior projeto da Vanguard e um dos maiores da Europa, e certamente o mais seleto”, onde tencionam “consagrar elevadíssimos recursos económicos e humanos para permitir a realização de um projeto de exceção”.
A VIC Properties também já marcou o seu lugar na região. No ano passado, adquiriu a Herdade do Pinheirinho, uma propriedade de 200 hectares em Melides, onde prevê a construção de um hotel, 450 moradias e 250 apartamentos. O investimento total neste projeto, entre aquisição e desenvolvimento das várias unidades, rondará os 450 a 500 milhões de euros.
Já os franceses Terrésens têm em construção o resort de luxo La Réserve, nas proximidades das praias do Pego e Carvalhal, projeto que contempla 24 moradias, 82 villas e 56 apartamentos, num terreno de 10 hectares.
A dinâmica construtiva estende-se ao empreendimento Costa Terra Golf & Ocean Club, dos norte-americanos Discovery Land Company, que escolheram Melides para o seu primeiro projeto na Europa. O resort está em construção e o investimento ronda os 500 milhões de euros. Parece que George Clooney andou a olhar para o empreendimento, o que não será de estranhar, tendo em conta que um dos seus sócios, Mike Meldman, é gestor na Discovery Land.
Também a filha do multimilionário Amancio Ortega, Sandra Ortega, está prestes a avançar com a construção de um resort de luxo em Troia, num terreno adquirido há quase cinco anos à Sonae Capital. E a carteira de investimentos imobiliário-turísticos nos concelhos de Alcácer do Sal e Grândola não se fica por aqui.
Todo este fervilhar de novidades está a levar as agências imobiliárias a marcar posição na região. A JLL abriu neste verão um espaço físico na Comporta, dado o seu “enorme potencial de desenvolvimento”, sendo que decidiu apostar na oferta de “um serviço 360 graus, que vai desde a aquisição do terreno, à entrega da casa chave-na-mão ao comprador final”, conta Patrícia Barão, responsável pela área residencial da consultora.
A Porta da Frente Christie”s, que tem acompanhado o crescimento da linha Troia-Comporta nos últimos dez anos, tem previsto para breve a abertura de um espaço físico, assim como a Quintela+Penalva|Knight Frank e a Castelhana, todas especializadas em imóveis de luxo. Já a Engel & Völkers (E&V) antecipou esta tendência e desde 2014 que marca presença na Comporta. Como frisa Vítor Paiva, consultor da E&V responsável por este território, a antecipação teve em conta “o potencial adormecido da região, com inúmeros projetos suspensos, mas acreditando que a médio prazo iria explodir”.
E assim parece. Patrícia Clímaco diz mesmo que, no ano passado, “podia ter-se vendido mais se houvesse oferta, não tínhamos quase produto para oferecer e a procura foi grande”. A responsável da Castelhana lembra que os investimentos imobiliários na região oferecem uma grande rentabilidade, que pode ir dos 4% aos 10%, e esse potencial está a atrair muitos compradores. Na sua análise, a Comporta está a captar investidores portugueses, a maioria da região de Lisboa, e muitos europeus, nomeadamente no regime de residentes não habituais. Mas a galinha dos ovos de ouro nos próximos anos deverão ser os golden visa.
Francisco Quintela revela que, este ano, a imobiliária já concretizou vendas de 15 milhões de euros na zona da Comporta, 52% junto de estrangeiros, nomeadamente ingleses e americanos. Segundo frisa, os americanos “descobriram Portugal e estão a demonstrar uma apetência muito grande pelo país, situação que nunca tinha ocorrido”. Marta Espírito Santo, a responsável da Quintela+Penalva na Comporta, frisa que o território oferece muitas oportunidades, desde montes em Grândola com casas em ruínas, cujos preços podem rondar os 300 mil euros, a moradias mais exclusivas por 700 mil euros.