O Devir da Lusofonia e a construção de uma verdadeira identidade lusófona renovada, moderna e progressista
Reconhecida investigadora das ciências da comunicação e da cultura da língua portuguesa, desenvolvendo um trabalho notável enquanto docente universitária e presidente do Instituto do Mundo Lusófono, Isabelle de Oliveira apresentou, no passado mês de novembro, em Lisboa, o seu livro o Devir da Lusofonia. De assinalar a presença do filósofo Edgar Morin que se deslocou a Portugal propositadamente para este lançamento.
De que trata o seu Devir na Lusofonia?
Trata-se de um livro que nos abre as portas da memória e da reflexão sendo uma fonte de informação e uma primeira tentativa de balanço. Uma obra contra o esquecimento – e esta é outra das suas virtudes. Respeitados pelo seu trabalho, pela sua dinâmica, e pela integração exemplar nos tecidos sociais locais, a nossa diáspora é hoje a imagem de um Portugal bem longe dos clichés do passado. Se nos preocupamos realmente com o futuro da diáspora portuguesa, não repitamos os erros do passado.
Esta nossa reflexão pode ser também uma ferramenta essencial no sentido de instigar mentes mais inquietas, capazes de ir mais além nesta construção do futuro – a construção de uma verdadeira identidade lusófona renovada, moderna e progressista, do qual todos somos autores. A análise que desenvolvemos presentemente incentiva e desperta uma reflexão centrada nas oportunidades de enraizamento do diálogo entre civilizações, para concretizar um sonho comum – uma Lusofonia em contacto direto com as urgências e desafios do mundo, uma Lusofonia que defende acerrimamente a sua posição em todas as instâncias, uma Lusofonia que atua no terreno, diariamente, junto das populações, uma Lusofonia pró-ativa e com sede de inovação.
Mais do que nunca, temos de nos pôr em causa e enfrentar os desafios que carecem de respostas imediatas e que podem redefinir os contornos do mundo de amanhã. A lusofonia é manifestamente plural. Não comporta ortodoxias políticas, não assenta numa unidade de pensamento e de expressão, logo, raramente é unívoca. Seria impossível vislumbrar o devir da lusofonia se o dissociássemos do futuro da Humanidade. A ligação da lusofonia às realidades do mundo contemporâneo também é uma evidência. A lusofonia poderia ser um investimento seguro, uma expressão de circunstância nestes tempos de crise financeira, para todos os que receiam o aparecimento de um modelo cultural uniforme e, consequentemente, de um pensamento único, hegemónico e até normalizado, ignorando a diversidade do mundo. A lusofonia é agente das relações internacionais, cujo comportamento é moldado por diferentes interesses. Esses interesses podem ser comuns a diversas organizações – a paz, a luta contra o subdesenvolvimento, a proteção dos direitos humanos – ou podem ser-lhe específicos.
Devemos assumir a nossa quota-parte nessa reconfiguração do mundo com a convicção de que poderemos cimentar esse espírito de solidariedade que constitui a própria essência da Lusofonia, contribuindo para a afirmação e a difusão dos valores que a mesma veicula e, dessa forma, nestes tempos de crise, tornaremos compreensível e evidente a necessidade imperiosa de uma solidariedade com base nos atos.
E essa é a verdadeira raiz de todo o meu trabalho em prol da Lusofonia da qual este livro representa o meu pensamento atual acerca do que deverá ser o Futuro da Lusofonia: Um valor sólido e seguro, pleno de oportunidades que tem obrigatoriamente de se impor no Mundo sublinhando em qualidade aquilo que já representa indiscutivelmente em termos de quantidade.
O Prof. Edgar Morin ensinou-nos e ensina-nos: “Um trabalho tem sentido para uma pessoa quando ela o acha importante, útil e legítimo.”
A afirmação dos valores da Lusofonia no Mundo representam para mim algo de muito válido, importante, útil e legítimo.
Como vê hoje a expansão da Língua e da Cultura Portuguesa?
Embora segundo as projeções o mundo deva contar com 400 milhões de lusófonos em 2050, essas previsões não estão gravadas na pedra e devemos mostrar-nos realistas, atentos e sobretudo pró-ativos, num ambiente que se vai revelando cada vez mais aguerrido.
Tenho a profunda convicção de que o português, tal como acontece com outras línguas de comunicação, também pode ser uma língua comercial, de evolução tecnológica, da sociedade da informação ou de investigação científica. Mas, para tal, temos de acreditar nisso, ter essa pretensão e, acima de tudo, munirmo-nos de instrumentos para a sua consecução.
Atualmente, reconhece-se que já não existe autorregulação dos mercados. No entanto, não obstante a sua amplitude, surgiu a necessidade de uma mobilização para chegar a uma regulação económica e financeira. É chegado o momento de refletir e trabalhar sem demora numa regulação linguística cujos interesses são, no mínimo, de igual importância.
Ora a lusofonia não é uma realidade imutável. A lusofonia é um fenómeno voluntarista por excelência: pode perder-se ou, se preservada, desenvolver-se. Neste contexto, devemos asseverar que a lusofonia e a lusofilia são dois conceitos intrínsecamente ligados: a lusofilia é uma porta para a aprendizagem da língua portuguesa e a lusofonia é uma porta para a lusofilia e para a aquisição de produtos lusófonos. Isto refere-se especificamente à língua portuguesa que, mais do que outras línguas, também personifica um modo de vida bem característico.