Sempre quis emigrar, talvez por querer conhecer um pouco o mundo, mas também por ter uma grande vontade de me tornar independente financeiramente. Arranjar um trabalho como recém-licenciada foi complicado. Quando acabamos o curso temos sempre o coração cheio de sonhos e expetativas, que não condizem nada com a realidade.
Em Portugal ainda tive oportunidade de aprender mais na clínica de um amigo, mas precisava de meter a “mão na massa”. Falei com uma amiga dentista que trabalhava em Paris, e com a ajuda dela decidi vir e tentar.
Depois de ter feito um curso de francês, vim cheia de sonhos, mas no início foi bastante complicado, sobretudo por não dominar a língua, o que me criou alguns obstáculos para passar no exame da Ordem dos Médicos Dentistas em França. Mas não desisti. Fiquei em Paris três meses, melhorei o meu francês e tive a sorte de ser chamada na primeira clínica onde entreguei currículo, onde fiquei dois meses em observação, até passar no exame oral da Ordem dos Médicos Dentistas.
Comecei a trabalhar em janeiro de 2015 e tem sido uma experiência muito enriquecedora, tanto a nível pessoal como profissional. Trabalho quatro dias por semana e monetariamente é verdadeiramente compensador para quem entra no mundo do trabalho sem nunca ter ganho um salário.
Tenho a sorte de ter mais três amigas portuguesas a trabalharem comigo. Nunca me sinto desapoiada. Os laços que criei são, sem dúvida, o melhor de tudo. Felizmente tenho um grupo de cerca de 20 amigos, que considero como minha família, sendo a maior parte portugueses que, como eu, emigraram em busca de uma vida melhor. Estamos juntos todos os fins de semana. Sinto mesmo que as ligações que crias aqui são diferentes.
Mas por muitos amigos que tenhamos, nunca é como ter a mãe, o pai ou o irmão por perto. Entrar em casa aqui não é a mesma coisa que entrar em casa em Lamego: os cheiros são diferentes, o conforto é diferente, os hábitos aqui são diferentes. O Facebook e o Skype ajudam a matar saudades, mas não é a mesma coisa.
Paris é uma cidade maravilhosa. Nunca fico entediada, descubro sempre um cantinho novo e lindo para visitar. No entanto, os franceses são pessoas mais frias, mais distantes e um pouco xenófobas, com bastantes preconceitos em relação aos portugueses. Muito se admiram quando digo que sou dentista.
Nunca fui maltratada, mas sinto algum desdém quando digo que sou portuguesa e algum rancor quando digo que sou formada. Talvez porque existam muitos emigrantes. Mesmo os meus colegas dentistas franceses se queixam que agora é mais complicado arranjar emprego.
Mesmo assim, não me arrependo nem um pouco de ter vindo. Sou feliz. Quando a saudade aperta, vou visitar os que mais amo e penso em tudo o que conquistei em tão pouco tempo: trabalho, independência financeira e amigos novos.
Não sei se me vejo a viver em Paris para sempre, porque é uma cidade com demasiado movimento. Mas também não me vejo a voltar para Portugal tão cedo, pois não sinto que me deem as oportunidades de crescer que aqui tenho.