Nos conturbados tempos que hoje vivemos no plano político internacional, com as contingências económicas e sociais daí decorrentes, há que realçar e prestar justo tributo à diplomacia portuguesa – e em particular ao ministro dos Negócios Estrangeiros – pela forma discreta, eficaz e sobretudo reveladora de grande perspicácia na análise política de impactos futuros, como têm gerido as múltiplas e complexas “frentes de batalha” em que Portugal está e certamente vai continuar a estar envolvido.
Augusto Santos Silva revelou-se o grande pilar político de António Costa e elemento fundamental na coesão da atual solução governativa, mas deve-lhe sobretudo ser reconhecido o mérito e o extraordinário desempenho que tem protagonizado à frente da pasta dos Negócios Estrangeiros.
A sua ação, coordenada com a Presidência da República e apoiada na elevada e reconhecida competência da diplomacia portuguesa, tem dado um forte contributo à afirmação de Portugal nos mais variados domínios da política internacional, desde António Guterres, na ONU, a Mário Centeno, na presidência do Eurogrupo, até à consolidação da afirmação estratégica do nosso país, como no caso das relações com a China – com o reconhecimento pelas autoridades chinesas de Portugal como um parceiro estratégico de entrada, não só na União Europeia, mas sobretudo no espaço da Lusofonia – ou à gestão de dossiers complicados, como foi o caso do extremar de posições com Angola, por força do processo judicial contra Manuel Vicente, anterior vice-presidente daquele pais africano, com a posterior visita do presidente angolano ao nosso país a espelhar o clima fraterno de recíproca cooperação desejado com as autoridades portuguesas.
Agora, Portugal enfrenta mais “duas provas de força”, com o Brexit – que independentemente da solução que vier a ser adotada terá sempre impactos negativos no país, com enfoque nos domínios da economia, do turismo e na nossa expressiva comunidade residente no Reino Unido – e com a instabilidade política na Venezuela, que inopinadamente pode degenerar numa espiral de violência incontrolável, ao extremo conduzindo a uma guerra civil.
A grande questão que agora se coloca é se, particularmente neste último caso, bastará a atuação da nossa esfera política e a diplomática ou se Portugal terá, num contexto mais alargado, também de equacionar uma resposta mais musculada, principalmente atendendo à vasta comunidade de portugueses e lusodescendentes naquele país sul-americano.