O Reino Unido quer construir uma nova, positiva e construtiva parceria com a União Europeia para substituir a relação institucional de que estamos a sair. Queremos que esta nova parceria inclua um acordo comercial abrangente, dando às empresas europeias e britânicas a máxima liberdade para negociarem e operarem em ambos os mercados.
Além de uma forte relação com a UE, queremos proteger e reforçar as nossas relações bilaterais com os parceiros europeus, incluindo Portugal, com quem partilhamos uma longa história e uma forte relação, inclusivamente a nível económico.
O Reino Unido é uma das poucas grandes economias europeias com quem Portugal tem um saldo comercial positivo. Em 2016, Portugal exportou 7.5 mil milhões de Euros de bens e serviços para o Reino Unido, que, por sua vez, exportou cerca de 3.3 mil milhões de Euros de bens e serviços para Portugal. Somos o 4º maior mercado de destino para os bens portugueses e o maior para os serviços. Nos últimos três anos, as exportações portuguesas para o Reino Unido cresceram cerca de três vezes mais que o ritmo global de crescimento das exportações. Acredito, pois, que Portugal queira manter uma forte relação comercial com o Reino Unido.
Alguns dos produtos que comercializávamos há 300 anos continuam a ser muito importantes hoje – incluindo, claro, o Vinho do Porto. Mas a relação comercial entre os nossos dois países é muito mais vasta, reflexo da integração das cadeias de abastecimento na maioria das indústrias, a nível europeu e mundial. Nas indústrias automóvel, farmacêutica, eletrónica e de tecnologias de informação existem hoje fluxos comerciais significativos em ambos os sentidos.
Os laços de investimento também são significativos. O Reino Unido é a terceira maior fonte de IDE em Portugal e valorizamos os fluxos de investimento português no Reino Unido. Nos últimos anos, temos visto importantes investimentos de empresas portuguesas, gerando emprego e acrescentando valor à nossa economia em sectores como o farmacêutico, transportes, energia, software e construção.
As relações económicas têm uma dimensão humana importante. Nos últimos anos, o Reino Unido tornou-se o principal destino para a emigração portuguesa, incluindo um número significativo de trabalhadores qualificados em ciências, serviços financeiros e saúde, fazendo a comunidade portuguesa no Reino Unido, que muito valorizamos, crescer para um número próximo das 400 mil pessoas. A presença britânica em Portugal é menor, mas de longa data. Uma comunidade residente de cerca de 40 mil pessoas encontra-se hoje espalhada um pouco por todo o país. Os visitantes britânicos são, de longe, a maior fonte de turismo estrangeiro para Portugal. Nos últimos anos, temos visto o número de turistas britânicos crescer consistentemente, e estimamos que o mesmo ultrapasse os 3 milhões este ano.
Considero prematuro tentar quantificar o impacto económico do Brexit em Portugal. Este dependerá da forma como moldarmos a nossa futura relação com a UE e, igualmente importante, da transição entre a realidade como a conhecemos hoje e esse futuro modelo. Mas acredito que ambos os lados partilham o interesse em encontrar uma solução pragmática e construtiva para o futuro.
Portugal e o Reino Unido estão unidos pela mais antiga aliança, uma aliança que perdura há mais de 600 anos. Mas esta aliança não é só história: os laços que nos unem, incluindo os fluxos de bens, serviços e pessoas, permanecem hoje tão fortes como no passado e estamos muito empenhados em renovar e projetar esta aliança no futuro.