Há dias, durante o almoço com amigos num restaurante de Lisboa, alguém falou na “diáspora portuguesa”.
Um adolescente que estava à mesa comentou que “diáspora” era uma palavra feia.
Eu retorqui que, de facto, foneticamente não é muito agradável, mas que representa algo de que devemos orgulhar-nos. E perguntei-lhe se sabia o que significava.
Perante a resposta negativa, alguém sugeriu que avançasse eu com uma explicação.
Resisti à tentação etimológica e em vez de maçar o rapaz com eruditas alusões à origem grega do termo e ao seu significado (que é “dispersão”), procurei apontar-lhe factos que o levassem a excluir a possibilidade de se tratar de um fruto parente do diospiro (como me afirmou, há anos, um aluno ignorante mas muito imaginativo…).
Assim, comecei por lhe falar da aldeia em que ele costuma passar férias e onde toda a gente o conhece e ele conhece toda a gente. E acrescentei que esse tipo de povoação inspirara a “aldeia global”, um conceito “inventado” nos anos 60 do século XX por Marshal McLuhan. Este filósofo canadiano (que se especializou no estudo dos fenómenos comunicacionais) quis assim explicar como o avanço da ciência e da técnica estava a criar novas formas de comunicação massiva, com o Mundo a transformar-se numa grande aldeia onde tudo seria comunicado a todos.
Uma nova e espantosa realidade, a que chamamos globalização, cuja dimensão e cujas consequências nem o próprio McLuhan (que faleceu em finais de 1980) conseguiu prever e que agora caracteriza o quotidiano de todos nós. Mas uma realidade, sublinhei, de que os portugueses foram destemidos precursores.
Perante o esgar de estranheza do meu adolescente interlocutor, passei a explicar-lhe:
No séc. XV, o povo deste pequeno e modesto País decidiu construir caravelas e meter-se “por mares nunca dantes navegados” em busca de outras terras onde tivesse melhores condições de vida.
Assim estava lançada a epopeia que ficou conhecida como Descobrimentos.
Os portugueses “deram novos mundos ao Mundo”, tornaram-se pioneiros da “aldeia global”.
E o que o que parecia uma loucura transformou-se num Império!
Mais tarde, no séc. XX, eis que este povo parte de novo à procura de melhores condições, espalhando-se por países de todos os Continentes – ou seja, dispersando-se pelo Mundo, o que justifica a escolha do termo “diáspora”.
Não sei se o adolescente fixou as minhas explicações. Mas quero crer que terão contribuído para que ele, tal como eu, sinta orgulho de ser português.
Jorge Castilho é jornalista e professor de jornalismo. É um dos mais veteranos profissionais em atividade (Carteira Profissional n.º 99). Ao longo de quase meio século tem trabalhado em jornais nacionais e regionais, agências noticiosas nacionais e estrangeiras, estações de rádio e de televisão.