Estudar em Inglaterra é (excessivamente) caro… Será que vale a pena?
Em setembro de 2011, fiz três ou quatro malas e troquei o sol do Algarve pelo céu (constantemente) nublado da cidade de Londres. Vim estudar Jornalismo – uma licenciatura que, na altura, não existia em Portugal. Quando comecei o curso na Universidade de Kingston, no sul de Londres, o valor das propinas estava a mais de 3 000 libras por ano – hoje, passados seis anos, já se paga o triplo.
Eu tive (muita) sorte. A minha família deu-me a oportunidade de estudar cá fora – estou eternamente grata por isso. Mas há muitas famílias que, pura e simplesmente, não podem pagar 9 000 libras (10 600 euros) por ano para enviar os filhos(as) para a “escola”. Para além das propinas, a NUS (National Union of Students) estima que os estudantes em Inglaterra gastam mais de 12 000 libras todos os anos em custos de vida (renda, comida, transportes públicos, etc).
Estes preços exorbitantes impedem muitos jovens talentos de irem para a universidade. Apesar de o governo britânico fazer empréstimos a estudantes, isto significa que muitos começam a vida com dívidas de milhares – dívidas essas que (provavelmente) nunca vão conseguir pagar na totalidade.
De ano para ano, as universidades inglesas estão a ficar mais parecidas às universidades americanas – um negócio onde os estudantes são tratados como clientes.
De certo modo, é triste que um país dito “desenvolvido” não considere a educação um direito fundamental, um direito que todos – ricos e pobres – deveriam ter. Por muito difícil que seja, se nos esquecermos do dinheiro por um segundo… nem tudo é mau. As propinas são as mais caras da Europa, mas a qualidade de ensino é elevada. Além disso, as oportunidades que as universidades “oferecem” são, como se diz em Inglês. “endless”.
Durante os meus três anos de licenciatura, fiz parte de diversas organizações, incluindo a Sociedade das Nações Unidas – e até a Sociedade do Vinho (não estou a brincar). Organizei inúmeras campanhas relacionadas com direitos humanos, fiz voluntariado, trabalhei na Associação de Estudantes e fiz estágios na minha área. Também fui uma das editoras do jornal da universidade, tive a oportunidade de estudar na Austrália durante uns meses e trabalhei como embaixadora.
Quando a universidade terminou, em junho de 2014, só demorei um pouco mais de dois meses a encontrar um trabalho na minha área – e o mesmo aconteceu à maioria dos meus colegas de curso. A universidade foi cara… mas se calhar até valeu a pena. O pior é que nem todos têm a minha sorte.
Neste momento, estou em Aberdeen, uma cidade no norte da Escócia, a fazer um mestrado em Conflito Global. No país do uísque e do golf, as propinas são mais baratas – especialmente para aqueles que só querem fazer a licenciatura. A minha irmã, sendo uma estudante proveniente de um país da União Europeia, não paga nada – pelo menos por agora. A história poderá alterar-se quando o Reino Unido sair da União Europeia.
Uma coisa é certa: se, na altura, eu me tivesse informado um bocadinho melhor (e fosse menos ingénua), não teria escolhido Inglaterra como destino. Tinha vindo logo para a Escócia, onde as universidades são tão boas ou melhores, e as propinas são (quase) de borla.