Trata-se da primeira vez que figuras portuguesas vão dar nome permanente a um projeto a cargo de um condado no estado de New Jersey.
É por decisão do administrador-executivo do condado de Essex, Joseph DiVincenzo, e do respetivo comité de comissários, que surge o “Essex County Sheriff Armando and Mary Fontoura Community Center”, em pleno coração do Ironbound, com inauguração prevista para dia 1 de Abril de 2024.
“Tenho que admitir que é uma grande honra para mim e para a minha família”, reage Armando Fontoura, em entrevista ao jornal Luso Americano, “para além de também ter sido uma surpresa. O segredo foi tão bem guardado, que apenas na conferência de imprensa onde o nome foi anunciado tomei conhecimento do facto. Foi um choque para mim, até fiquei sem palavras (o que acontece raramente…). Confesso que fiquei com os olhos marejados de lágrimas.”
Ao anunciar a designação do novo centro comunitário, DiVincenzo afirmou: “O xerife Fontoura e a esposa Mary representam bastante para a comunidade e tornaram-se mesmo um sinónimo do Ironbound. Quando a ideia de construção do centro ganhou formas, sabia que deveria ficar com o seu nome em honra ao seu legado de ajuda ao próximo.”
O Independence Park, uma espécie de pulmão do Ironbound, com apenas 0,6 milhas de extensão e que se faz em 1.500 passos, vai beneficiar de parte de um subsídio de 7,5 milhões de dólares atribuído por Trenton para que o condado de Essex recupere algumas das suas áreas verdes.
O projecto inclui a construção do novo centro comunitário e de um campo multiusos para a prática de futebol e softball; o projeto será faseado, com as obras já a decorrerem; após a construção do novo centro, far-se-á a demolição da estrutura ali existente agora. A fase seguinte passará pela restauração da área verde e dos caminhos para se passear pelo parque, construindo-se depois o campo para a prática do desporto.
O Independence Park é mais que uma área verde para o xerife Fontoura. “Foi o primeiro parque que visitei na América, quando aqui cheguei em meados da década de 1950”, conta o emigrante transmontano de Vilar de Perdizes. “Era o ‘Parque dos Mosquitos’! Devia ter uns 12 anos e já cá estavam a minha irmã e a minha mãe. Tínhamos um apartamento na McWhorter Street e, dias depois de ter cá chegado, fui ver o parque, que passou a ser parte das nossas rotinas, muitas vezes depois da missa, aos domingos.”
Por ser “perto de nossa casa, também lá jogava futebol com outros miúdos e ali comecei a namorar a minha futura esposa, Mary [igualmente transmontana], que vivia em Harrison. Passeávamos de mãos dadas no parque.”
O xerife Armando Fontoura diz aceitar a honraria por estar consciente de que, “de certa forma, esta é também uma homenagem à comunidade portuguesa pelo contributo que tem dado para a valorização de Newark. Isto não é por mim, é por nós todos.”
Fontoura não tem dúvidas de que a presença lusa no Ironbound foi fundamental para a revitalização da “Brick City” após as revoltas raciais do século passado, que provocaram um êxodo de moradores. “Os portugueses ficaram e foi isso que ajudou a salvar a cidade. Na altura, em 1957, eu era um jovem agente da polícia em Newark. Hoje a cidade é o que se vê, mas, para se revitalizar, teve primeiro que sobreviver e, para isso, na minha opinião, contribuiu em grande parte a comunidade portuguesa. Tenho-o dito a muitos autarcas e todos eles concordam comigo.”
O xerife Armando Fontoura antevê a cerimónia de abertura do Centro como um dia “de muitas emoções. Newark foi sempre onde passei grande parte do tempo, mesmo depois de me ter mudado para os arredores (a minha esposa reclamava que estava sempre no Ironbound!). Porque é na verdade onde está o meu coração, onde me sinto em casa.”