No início do ano, com o confinamento decretado para tentar travar a evolução da pandemia, grande parte do comércio teve de encerrar portas e mesmo muita da venda ao postigo – permitida em 2020 – não se pôde realizar.
As livrarias foram parte do conjunto de lojas que teve de encerrar e, por deliberação do governo, os livros deixaram de ser comercializados nas grandes superfícies (tal como outros bens) durante algumas semanas. O primeiro trimestre, diz a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), foi “traumático” e a Feira do Livro, embora importante, não vai salvar o ano para o setor. A expectativa é perceber como vai decorrer o Natal, tipicamente a época mais forte nas vendas.
“A questão mais importante é que foi um primeiro trimestre traumático. O mercado esteve fechado 10 semanas; mesmo na altura em que houve a autorização parcial para a venda de livros nos pontos de venda autorizados, o resto do segmento mais importante manteve-se fechado – essencialmente as livrarias e as redes de livrarias. O arranque do ano foi traumático, depois de um 2020 desastroso”, aponta Pedro Sobral, vice-presidente da APEL.
A partir de 15 de março, as livrarias tiveram autorização para abrir portas e nessa altura, avança o responsável, registou-se “alguma recuperação por parte do mercado”. Houve, assim, “uma evolução positiva, principalmente se compararmos face a 2020, mas ainda face a 2019 o mercado apresenta uma perda significativa”. Por isso o setor do livro não tem dúvidas de que os tempos que vive continuam a ser “complexos e difíceis”.
“Relativamente a encerramentos, algumas editoras fecharam de facto – houve a notícia de pelo menos duas terem fechado. No entanto, é preciso perceber o seguinte: este é um mercado que é constituído essencialmente por pequenos e médios editores e pequenos e médios livreiros. Muitos deles não têm uma gestão profissionalizada, o que significa que não há uma comunicação oficial se estão encerrados ou se estão abertos. Não temos uma noção clara do impacto no encerramento das empresas deste setor, sendo preciso ainda alguns meses para perceber o que está a acontecer”, sublinha Pedro Sobral.
A Feira do Livro de Lisboa vai ter lugar entre 26 de agosto e 12 de setembro, no Parque Eduardo VII, e é organizada pela APEL. O certame no Porto irá realizar-se entre 27 de agosto e 12 de setembro, nos jardins do Palácio de Cristal, e é organizado pela autarquia portuense, que já indicou que a Feira do Livro vai contar com 124 pavilhões.
O vice-presidente da APEL explica que não há uma espécie de concorrência entre os dois eventos, uma vez que cada um acaba por servir os cidadãos das duas cidades. “A Feira [do Livro] é importante porque é o único momento com relevância que os editores têm para estar em contacto com os leitores e os seus autores. E também para permitir escoar livros que, muitos deles, já não estão presentes nas livrarias”, diz. Mas estas cerca de duas semanas e meia não serão “o momento salvífico por si, no sentido em que não é a feira que vai resolver os problemas estruturais do mercado e os problemas de quase ano e meio de profunda incerteza”.
Portugal é um dos países europeus onde se lê menos. Ainda assim, o livro é muitas vezes uma opção para dar de presente. Por isso a expectativa da associação está centrada em como vão ser as últimas semanas do ano. “Aquilo que talvez vá ser mais importante é como é que vai ser o Natal e como é que o mercado se vai comportar a partir de setembro”, assume. Até porque, acrescenta, “a esmagadora maioria dos livros em Portugal é comprada ou por impulso ou para oferta, sendo o período mais relevante o do Natal”.
Quanto ao IVAucher, medida lançada em junho pelo governo com vista a estimular o consumo nos setores mais afetados, Pedro Sobral admite que neste momento não pode “prever o impacto que essa medida terá no Natal”. Para já, ainda assim, a “medida não tem tido um impacto relativo, no sentido em que causou mais confusão do que propriamente capacidade para impulsionar o consumo”.