Quando reencontrei Hugo da Costa, a sensação que tive é que tinha crescido anos. Meses depois da primeira entrevista, que o Contacto lhe fez, parece ter perdido alguma da sua inocência inicial. Agora, depois de ser eleito, parece verdadeiramente transfigurado. Ri-se quando lhe digo que parece mudado e lhe pergunto porquê. É o sentimento de “dever cumprido”, responde. “Trabalhei, trabalhei, trabalhei, mas consegui atingir os meus objetivos”, afirma.
“Houve várias dificuldades nos últimos meses, como ter os exames e a campanha ao mesmo tempo, que me fizeram ter que tomar decisões que as pessoas da minha idade não têm habitualmente que tomar. Acabei por conseguir fazer as duas coisas sem problemas. Mas houve também o confronto com algumas pessoas. Porque há também pessoas más, que são poucas, mas que só querem deitar abaixo. Mas temos que passar por cima disso. Mas são essas pessoas que dizem coisas negativas, que por vezes têm mais impacto, do que a outras que ajudam”, sublinha.
E o peso que vai ter que assumir não é fácil. Terá que conjugar o trabalho como conselheiro comunal com o de estudante de licenciatura em Direito em Bruxelas. Trabalhos que não o assustam. E a sua determinação faz adivinhar que cumprirá a 100% as suas tarefas. Assim o fez, com sucesso, durante a campanha. Estava a concluir os exames finais no liceu, mas não foi por isso que faltou às atividades de campanha para as eleições comunais. “Uma carga de trabalho muito forte”, reconhece.
Trabalhei, trabalhei, trabalhei, mas consegui atingir os meus objetivos.
O seu resultado surpreendeu-o. “Não pensava que ia ser eleito logo na primeira vez”, diz. Foi o 8.° candidato mais votado na comuna de Betzdorf e teve mais votos que alguns que antes já estavam no conselho. “O meu trabalho, a minha rede e também o facto de as pessoas quererem mais jovens na comuna”, foram os três fatores que, na sua opinião, mais contribuíram para a sua eleição. “Mas existe uma vontade muito forte de ter jovens na comuna”, considera Hugo da Costa. “As pessoas querem novas ideias, dinâmica e dar a possibilidade aos jovens de mudarem coisas na comuna”, sublinha. Para a sua eleição contribuiu de forma determinante a sua rede constituída pelos pais, família e amigos.
“Agora tenho que mostrar que não é só falar, tenho que trabalhar para não desiludir quem teve confiança em mim”, reconhece.
“Em termos nacionais estamos todos super felizes aqui no partido”, diz comentando os resultados nacionais do DP. “Mas em Betzdorf não estou 100% satisfeito com o resultado do DP. Como coordenador gostaria de estar numa posição de maioria, o que não é o caso. Há ainda muito trabalho para convencer as pessoas”, sublinha. A comuna vai continuar a ser liderada pela coligação CSV/LSAP e os democratas vão continuar na oposição “o que torna mais difícil ter um impacto forte na comuna”. Mas garante que não vão fazer uma política de oposição “só para bloquear”. A maioria deverá apresentar projetos, “mas nós também o podemos fazer tendo direito a apresentar propostas. Vamos ser construtivos, tentando melhorar os projetos deles”, afirma.
Prioridade para já é o projeto de criar um conselho comunal das crianças e dos jovens. Porque “há um problema em conseguir fazer entrar jovens na política e em todos os partidos”, sublinha. Outras das suas medidas principais é conseguir reforçar o apoio financeiro e humano à casa dos jovens.
Até porque, atualmente, há muitos casos de jovens com problemas de saúde mental e “que nos hospitais e especialistas não encontram resposta por falta de vagas”. “Podemos através do trabalho da casa dos jovens intervir antes que o problema seja verdadeiramente grave”, adianta.
Nas próximas três semanas vai estar a trabalhar no secretariado do DP para preparar a organização do próximo congresso dos democratas. Uma reunião magna que vai eleger o comité de direção do partido que irá validar as listas para as próximas eleições legislativas.
Já tem férias marcadas e o destino só podia ser Portugal. Vai passar férias em Olhão, no Algarve e em Lisboa.
Quanto ao facto de alguns dos candidatos mais votados portugueses não terem assumido os seus lugares. “Não posso dizer que senti discriminação, nem tive qualquer comentário pelo facto de ter um apelido ser português”, sublinha. Mas admite que possa ter existido em alguns casos.
Por exemplo, quanto ao caso de Antónia Afonso, a terceira mais votada nas listas do LSAP na capital, considera que “não se mete uma lusófona na lista para depois não a querer no conselho, isso é inadmissível”, diz.
Mas ainda diz que “há poucos estrangeiros que decidiram votar e apresentar-se, mas também há alguns estrangeiros que tiveram resultados muito bons, o que foi um sucesso na alteração da lei de voto. Mas ”não quero pensar em se é estrangeiro ou luxemburguês quando é para trabalhar para o bem, de todos”.
Xavier Bettel, primeiro-ministro luxemburguês, escreveu-lhe a dar os parabéns . Mas dias mais tarde “tivemos um comité de direção do partido e deu-me os parabéns pessoalmente”, diz orgulhoso.
Quando lhe pergunto onde se imagina daqui a seis anos quando terminar o seu mandato responde no conselho comunal. “Depois vamos ver…”
Mas com certeza que a carreira política de Hugo da Costa não vai ficar por aqui.
Entrou na política por causa de Xavier Bettel
“Gosto de azul e quero que Xavier Bettel seja primeiro-ministro, e aconteceu!”. Com apenas nove anos, Hugo da Costa já era um apoiante incondicional de Bettel para vencer as eleições legislativas de 2013. “Na altura não tinha consciência política, mas adivinhei os resultados e a partir daí comecei a interessar-me ainda mais pela política”, revela.
Com 12 anos o projeto que fez na escola foi um livro a explicar o funcionamento da União Europeia. Nesse contexto, o pai desafiou-o a fazer uma entrevista ao primeiro-ministro. O pai, sem lhe dizer nada, contactou Xavier Bettel. E inesperadamente o pedido foi aceite.
Pouco tempo depois, faria a entrevista que viria a mudar a sua vida. Recorda-se que quando a entrevista terminou, Xavier Bettel lhe disse que tinha de telefonar ao chanceler da Áustria. Na altura “fiquei espantado, como é que um homem com tantas responsabilidades faz uma entrevista de 20 minutos com um aluno de 12 anos?”, recorda.
E foi nesse momento que percebeu o que queria fazer na sua vida: política. Recorda que “Bettel tem uma forma de ser que não muda em função das pessoas: esteja a falar com um chefe de Estado ou com um cidadão normal”. Esse é o momento-chave que marca a sua vida política. Um momento de viragem em que passa de “espectador a ator”, diz.
E Hugo desde então não parou. Com menos de 20 anos já conta com um currículo impressionante. Na escola foi tesoureiro e presidente do Comité de Alunos e representante do liceu no Conselho Nacional dos Alunos.
“Depois abriu-se outra porta do Parlamento dos Jovens no Luxemburgo”, descreve. Recorda que no primeiro ano foi logo eleito presidente da Comissão de Assuntos Estrangeiros. Um ano depois, com apenas 16 anos, foi eleito o mais jovem presidente de sempre deste Parlamento, sendo também o primeiro lusófono a ocupar este lugar. Não tem dúvidas que “há uma geração de lusófonos e lusodescendentes que está a crescer e a ter mais responsabilidades”, salienta. “Sempre fui DP”, diz, mas só se tornou militante depois de deixar a presidência do Parlamento dos Jovens.
Depois “tudo aconteceu muito rápido”. Primeiro foi designado como responsável pela secção de Betzdorf do DP e a mais recente etapa foi ter sido eleito, com 17 anos, membro mais jovem do Comité Diretor do partido. Um órgão com cerca de 40 pessoas que decide os destinos e as grandes linhas. Uma conquista conseguida no seu congresso de estreia em que participou como militante democrata.
Porque é que se faz política
“Faz-se política para fazer coisas que melhorem o dia a dia das pessoas”, uma motivação reforçada sempre que vai ao miradouro da torre de água de Roodt-sur-Syre. Um espaço como uma vista de 360 graus sobre a comuna de Betzdorf e os seus habitantes. É aqui que gosta de lembrar-se da razão por que quer fazer política: as pessoas.
Faz-se política para fazer coisas que melhorem o dia a dia das pessoas.
Betzdorf é uma pequena autarquia que ganha dimensão por receber a sede europeia da SES, empresa multinacional de satélites e também da Panelux, que produz pão que é distribuído por todos os cantos do Luxemburgo. É também o local onde nasceu o atual Grão-Duque Henri, chefe de Estado do país.
Outra das particularidades de Betzdorf é ter muitas tradições, como em Mensdorf, uma das aldeias da comuna onde se realizam as maiores festas da região, a festa anual da ameixa chamada de “Quetschekiermes”.
Esta também é uma comuna com “muitos portugueses e muito bem integrados”. Uma das diferenças que o leva a gostar de viver numa pequena comunidade, em vez de uma grande cidade, é que tem um grupo de amigos muito forte e que fica para a vida. Hugo é fluente em seis línguas, e toca piano há mais de dez anos. Mozart e Beethoven são os seus compositores preferidos. Mas recentemente apaixonou-se por um disco do autor brasileiro João Gilberto.
“Sempre tive uma paixão pelos assuntos políticos” e por isso vai tirar o curso de Direito. Mas ainda não tem a decisão definitiva. Os pais são da segunda geração de migrantes: a mãe veio de Negrais para o Luxemburgo ainda muito jovem, e o pai da aldeia de São Bento na Serra de Aire e Candeeiros. Quando pode regressa à terra porque tem uma forte ligação com a família em Portugal. Tem uma árvore genealógica da família oferecida pela avó que revela que são uma antiga família de agricultores.
Foram os avós paternos os primeiros a emigrar para o Luxemburgo. Depois seguiu-se o resto da família. Gosta de salientar que a família tem um papel preponderante na sua vida. “Para singrar tem de se trabalhar”, foi um dos valores que aprendeu com a sua família. Citando Xavier Bettel, “nós não queremos um Estado que nos dá um colchão para dormir. Mas sim um Estado que nos dá um trampolim para saltarmos mais alto”. “E é isso que eu quero, um Estado e as comunas que ajudam as pessoas a ir mais longe”.
Se tudo começou pela admiração que tenho pelo Xavier Bettel, hoje a razão principal para ser DP é a Europa, porque no meu coração o DP é o partido mais pró-europeu no Luxemburgo.
Por que razão o DP? “Se tudo começou pela admiração que tenho pelo Xavier Bettel, hoje a razão principal para ser DP é a Europa, porque no meu coração o DP é o partido mais pró-europeu no Luxemburgo”, responde. “Esta é a minha força para fazer política”, reforça. Porque a Europa é a base fundamental da paz, da economia e de todo o nosso dia a dia.
Fundamental é também o DP ser um partido liberal. “Mas o que é que isso significa? Porque as pessoas tendem a pensar que o DP é liberal, apenas, economicamente”. No sentido que “queremos que as empresas tenham mais liberdade para funcionar, criar emprego e desenvolver uma atividade com facilidade”.
Mas há também “a parte social do liberalismo que para mim é a mais importante: que passa pela defesa de valores como a democracia, a tolerância e a igualdade de oportunidades”. Para que todos, independentemente da sua origem, tenham as mesmas oportunidades para ser o que quiserem. E oportunidades não deverão faltar na carreira política de Hugo da Costa que está apenas a começar.
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