“A quantidade de ouro detida pelo banco não se alterou”, mantendo-se nas 382,5 toneladas, revelou o Banco de Portugal no Relatório do Conselho de Administração divulgado esta quarta-feira. Por outro lado, verificou-se “uma desvalorização pouco significativa do preço do ouro em dólares”.
Sendo assim, como é que o ouro está a brilhar mais nos cofres o Banco de Portugal? Por causa da “evolução positiva da cotação da onça de ouro em euros”, explica a entidade.
Embora o preço da onça em dólares tenha recuado 0,2% em 2022, a cotação do metal em euros registou uma apreciação de 6%, o que permitiu a carteira do Banco de Portugal valorizar 1,189 mil milhões de euros. Neste período, o dólar valorizou 6,2% contra o euro.
Desde 2017 que as reservas portuguesas estão a valorizar à boleia do aumento da cotação do ouro nos mercados. E praticamente duplicaram de valor numa década, quando em 2013 valiam “apenas” 10,7 mil milhões de euros.
De acordo com o supervisor, as reservas de ouro apresentam um custo de aquisição de cerca de três mil milhões de euros, pelo que “as mais-valias potenciais associadas a este ativo” ascendem a 17,95 mil milhões de euros.
Onde está guardado o ouro?
Mais de metade das reservas do metal valioso estão guardadas fora do país, designadamente no Banco de Inglaterra (10,2 mil milhões de euros), no Banco de Pagamentos Internacionais (1,09 mil milhões) e no Banco de França (201,9 milhões).
Já a fábrica de notas do Banco de Portugal situada no Carregado guarda as outras reservas que se encontram avaliadas em 9,47 mil milhões.
Portugal tem a 14.ª maior reserva de ouro do mundo
Casa Forte de Reserva. É assim que se chama o local onde o Banco de Portugal armazena as reservas de ouro, recupera notas destruídas e analisa se algumas são falsas.
Portugal não vende ouro desde 2007, no âmbito do acordo de estabilização ao nível dos países do euro. Neste momento, é o sexto país da Europa Ocidental com mais ouro.
Em maio de 2022, numa visita guiada, os jornalistas puderam pela primeira vez tirar fotografias à Casa Forte de Reserva, que fica no Carregado.
Grande parte deste ouro está guardado nestas instalações: 13.666 barras, num total de 173 toneladas. Cada barra pesa cerca de 12 quilos. No Carregado, estão ainda 406 barras que pertencem ao Banco Central Europeu (BCE), mas estão à guarda do Banco de Portugal (BdP).
Curiosamente, a maioria do ouro está guardada no estrangeiro. A colocação de ouro no estrangeiro é uma estratégia comum entre bancos centrais, que permite a rentabilização do ativo, sobretudo quando as taxas de juro ficaram negativas. Só em 2011, o euro rendeu 40 milhões (37% dos resultados ativos de gestão); em seis anos, o BdP encaixou 132 milhões com o ouro colocado no exterior.
Em 2022, as reservas de ouro representavam 10% dos ativos totais do Banco de Portugal, avaliadas em cerca de 20 mil milhões de euros. Contas feitas, significa uma valorização de cerca de 17 mil milhões, caso a instituição entendesse vender este ouro.
Mas, nas instalações do Carregado há também 2,6 mil milhões de euros em notas. No total, são 135 milhões e 856 mil notas, prontas para entrar em circulação.
Todas as notas que chegam ao Carregado passam por máquinas que verificam se são verdadeiras ou falsas e se têm condições para circular. Depois, são separadas em quantidade e divididas em maços, empacotadas.
No caso de as primeiras máquinas não conseguirem averiguar a veracidade das notas, elas passam para outra secção, onde vão analisadas por especialistas que vão usar outras máquinas para apurar a existência, ou não, de elementos de segurança, por exemplo, liga metálica, relevo, marca de água, filete de segurança, mas também alguns que não são do conhecimento público.
Segundo o BdP, os maiores picos de circulação de dinheiro falso em Portugal acontecem no verão e no fim de ano. As autoridades judiciárias já conseguiram desmantelar várias redes de contrafação em Portugal.
Ao Carregado chegam também notas pintadas, tintas de segurança, lançadas na sequência da violação de uma caixa multibanco/ATM ou de um banco.
Se tinha notas em casa e ficaram danificadas por causa de um incêndio ou de cheias, ou ainda se o seu animal de estimação lhe deu umas dentadas, saiba que pode entregá-las ao Banco de Portugal.
Elas são depois enviadas para a Casa Forte de Reserva do Carregado e, de mais de 50% da superfície for recuperável, o valor das notas é restituído à pessoa. No caso de não se conseguir recuperar, são destruídas e não existe lugar a qualquer restituição. De salientar que este é um serviço que o BdP presta sem cobrar qualquer valor, é ‘pro bono’.