A verrobeia verbal e de ideias fáceis, mas muitas vezes perigosa e deturpadora que varreu este país durante a última campanha eleitoral – e muitas vezes alicerçada nas novas forças políticas emergentes na democracia portuguesas, para o bem ou para o mal – esperemos que seja, não mais, do que um episódico fenómeno que o tempo vá erodindo. Na verdade, estes tempos recentes trouxeram-me à memória a célebre tirada do Rei Juan Carlos, na XVII cimeira Ibero-americana, perante o despropósito verbal do malogrado presidente venezuelano, Hugo Chavez: “Porque não te calas?”
Não me interessa aqui discutir a validade dos argumentos que quotidianamente são esgrimidos na praça pública porque a culpa tem de ser repartida, sobretudo por quem lhes dá palco para falar, e porque entronca num grau já avançado do mal ancestral e epidémico duma franja esclarecida de povo que povoa Portugal – a compulsiva necessidade de opinar, a qual, pela sua própria natureza cultural, é castradora da iniciativa do fazer.
De facto, é mais fácil falar do que fazer, é mais fácil criticar do que empreender, é preferível justificar do que reconhecer. Se calhar está na hora de arranjarmos um Juan Carlos, mesmo que não seja Rei, que diga a toda esta gente “Porque não se calam!”
Portugal precisa de estabilidade, política, económica e social. Ainda este novo ciclo político vai no adro e já os desaventurados da desgraça auguram grandes infortúnios para os tempos vindouros e continuam obstinadamente a não perceber que os portugueses não querem políticas cegas, discursos ocos ou promessa vãs. Estes ciclos de erosão virtual são tão perigosos para socialistas, como para social-democratas, bloquistas ou comunistas, principalmente quando se embarca num jogo de oportunidade política que pode redundar na sua perdição e deixar clivagens sociais que poderá levar décadas a regenerar.
O esforço exigível, a uma pessoa, a um grupo, a um povo, para ver reconhecida a generosidade dessa entrega, implica sempre um caminho comum, uma meta temporal e uma clara compreensão do que está em jogo. Será bom que todos nós, nós portugueses, aquém e além-fronteiras, afastemos de vez a necessidade de recorrer a um qualquer Juan Carlos para mandar calar quem está apostado em não ver este País avançar.
Não esqueçamos que o Poder pode rapidamente passar de uma democracia representativa para uma governação autocrática, cega e egoística, sem que disso tenhamos imediata perceção ou consciência. Por enquanto entretemo-nos no Twitter, no Facebook, nas redes sociais e temos a sensação de que somos livres de pensamento e ação. Por quanto tempo?