No ano de 2019 a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa tinha resultados positivos acumulados de 650 milhões de euros, lucros de 37,5 milhões de euros, depósitos bancários de mais de 200 milhões e mais de 600 imóveis. Em 2020, só um ano depois, apresentou prejuízos de 53 milhões de euros.
Como explicar isto? As contas finais do ano revelam que a perda de receitas do jogo aliada a uma subida significativa dos custos é a responsável por esta situação. As vendas brutas dos jogos tiveram uma queda de 17,6%, reduzindo a receita destes em menos 592 milhões de euros, por seu lado, a Santa Casa viu os seus gastos terem um aumento significativo muito devido à Covid-19 (área da saúde).
Mas a polémica está instalada, porque o governo não convencido, mandou auditar os projetos internacionais e exigiu uma reavaliação das contas.
O ex-provedor para se proteger diz que o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social aprovou a estratégia e todas as decisões.
Mas alguma coisa vai mal. Como se pode entender que a Santa Casa tenha 6 000 funcionários e destes quase 400 sejam dirigentes? Pasme-se que em 2016 tinha 4500 funcionários e pouco mais de 250 dirigentes.
O ex-provedor Edmundo Martinho está no centro do furacão. Neste momento, pairam no ar suspeitas de ilegalidades e eventuais negócios ruinosos.
Para além da já citada auditoria foi também pedida uma reavaliação dos Relatórios de Gestão e Contas. Sendo muito natural que em consequência desta auditoria o conteúdo desta seja enviado para o Ministério Público.
Quem diria que a grande instituição de referência em Portugal estivesse a passar por todos estes problemas? Gestão danosa ou simplesmente sinais dos tempos?
As Misericórdias sempre foram instituições ricas e com muito património. Mas no passado seriam auditadas com o rigor que se requer hoje em dia? A maneira como conseguiram o património, muitas vezes doado, teria sido legítima? A nomeação para o cargo de Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa é da competência do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.
Em março deste ano Ana Jorge, que fora Ministra da Saúde entre 2009 e 2011, foi a nomeada para a função. Não se esperam tempos fáceis à frente desta secular instituição.