O número de emigrantes chineses em Portugal cresceu de cerca de dois mil para mais de 35 mil nas últimas três décadas. Em busca de um futuro melhor, abriram restaurantes e estabelecimentos comerciais, e hoje é fácil encontrar sapatarias e lojas de telemóveis chineses em Lisboa. Oriundos maioritariamente de Wenzhou, têm uma vida calma, mas marcada pelo trabalho. Depois de terem enfrentado dificuldades na comunicação e saudades da China, desenvolveram amizades com portugueses, participam em jogos de futebol e conversas de café. Para a comunidade chinesa, o clima agradável e a simpatia portuguesa são como um «vento» que garante a navegação segura dos negócios
Na década de 1980, viviam em Portugal entre 2.000 e 3.000 pessoas de origem chinesa. Hoje, já são mais de 35 mil. As oportunidades, que no passado estavam limitadas a restaurantes e lojas, tornaram-se mais diversificadas, incluindo a venda de roupa e importação de mármore, destacou à TRIBUNA DE MACAU Jin Yi, responsável pela Associação Internacional Buddha’s Light, notando ainda que também há muitos emigrantes chineses a trabalhar nas áreas dos seguros, turismo, advocacia e contabilidade.
A primeira vaga de emigração sofria muito com o cansaço do trabalho, mas com a abertura chinesa e expansão das relações comerciais, nasceram mais oportunidades, nota, por sua vez, o presidente da Liga dos Imigrantes Chineses em Portugal, Wu Zhengguang.
«Em Portugal, o stress é menor quando comparado com a vida na China ou noutros países europeus. Uma das razões é porque os portugueses são simpáticos, em comparação com os espanhóis e franceses, que discriminam muito os chineses», elogiou Jin Yi, acrescentando: «O nível de felicidade é alto, pois os produtos são relativamente baratos e o clima é óptimo». «Em Portugal, o céu é azul 300 dias do ano. O marisco também é maravilhoso e a sociedade é harmoniosa», referiu.
Primeiro supermercado chinês abriu em 1992
Na Rua de Palma, conhecida como a rua dos chineses em Lisboa, a TRIBUNA DE MACAU conversou com Chen Jianshui, fundador do “Supermercado Chen”, que já tem três espaços comerciais em Lisboa, quatro no Porto e dois no Algarve.
Oriundo de Wenzhou (Zhejiang), ponto de origem da maioria dos chineses em Portugal, Chen chegou a solo luso em 1991, quando ainda não havia nenhum supermercado chinês. Antes, trabalhara em França, num supermercado, no entanto, não obteve o bilhete de identidade, pelo que, gradualmente, aproximou-se da terra de Camões, do país que acabou por dar fortuna à família.
Chen Jianshui abriu o primeiro supermercado na Rua de Palma, em 1992. Quando decidiu expandir o negócio, teve de recorrer à ajuda de mais de 50 familiares. Alguns deles abriram um restaurante chinês, mas ninguém saiu de Portugal, terra onde «já se habituaram» a viver.
«No início, era difícil, porque não conhecia ninguém aqui, mas com o tempo, os meus pais faleceram e não tinha necessidade de voltar à China, porque toda a família já vivia em Portugal. O meu filho é como eu, valoriza mais o sucesso dos negócios, apesar de também trabalhar como informático ao mesmo tempo. A minha filha e o meu genro também descansam pouco, marcando presença quando os funcionários estão de folga”, salientou.
Chen acabou de abrir um supermercado em Madrid e espera fazer o mesmo em França. A sua cadeia tem 200 colaboradores e inclui restaurantes chineses ou japoneses em Portugal. Para a entrega de produtos, tem seis camiões a circular em Lisboa, no norte e sul do país.
«Os portugueses aceitam muito bem a comida chinesa», disse, notando que muitos clientes viveram em Macau e recomendam e até ensinam os amigos a cozinhar e comer pratos chineses. «60% dos nossos clientes são portugueses», afirmou com orgulho.
No supermercado há cestos de bambu para cozer «dim sum» e diversos tipos de leite de coco. «Cada vez mais, os portugueses usam leite de coco nos pratos, por isso também temos muitos produtos tailandeses», explicou.
Para o comerciante, a pressão nos negócios é pequena, uma vez que tem clientes fixos. Questionado sobre se é feliz em Lisboa, respondeu: «Os portugueses são muito melhores do que os outros europeus. Os portugueses são fiéis e nunca intimidam estrangeiros. Isso nunca aconteceu», garantiu.
Para a família Chen, o crescimento dos negócios é a «maior alegria» na vida, por isso não costuma ir em viagens de lazer. «Quando viajo para fora, fico sempre a pensar no mercado e nos produtos do país onde estive», confessou com um sorriso, revelando que teve a ambição de explorar um supermercado em Angola até ver seguranças equipados com pistolas nas lojas.
Segundo disse, para abrir um supermercado com algumas dezenas de metros quadrados em Lisboa, é preciso investir pelo menos 100 mil euros. Mesmo assim, quase todos os restaurantes chineses em Portugal estão bem, sem défice nas contas.
Chen Jianshui tem seis netos, o maior com 12 anos, e em casa as crianças falam o dialeto de Wenzhou, totalmente diferente do Mandarim. Fora de casa, falam Mandarim com chineses e Português. Por não dominar bem o Português, admitiu ter vindo a contratar um tradutor ao longo de 18 anos para o ajudar. Mas agora, essa tarefa já é assumida pelos filhos deste comerciante, que não hesita em afirmar que emigrar para Portugal foi a «decisão correta».
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