Quem o diz é Yong Liang, presidente da Associação de Turismo Chinês em Portugal (ACTEP). Há ainda muito trabalho a ser feito, mas o dirigente acredita que se todas as partes trabalharem na mesma direção o sucesso será garantido.
A China abriu-se finalmente ao mundo e agora outros países estão a fazer o mesmo com cidadãos chineses. É uma boa notícia para o mercado do turismo?
Yong Liang – Claro que sim. Após um hiato de três anos causado pela pandemia da COVID-19, as viagens e em particular os tours de grupo da China ao exterior carregaram no botão restart. De acordo com um relatório recente, as viagens ao exterior a partir da China deverão atingir 228 milhões por ano até 2030, imagine como esses números vão ajudar à recuperação da economia mundial e um destino turístico como Portugal…
Antes da pandemia, existiam três voos diretos entre Lisboa e China, passou a apenas uma vez…
Y.L. – De acordo com as nossas fontes, a companhia aérea Beijing Capital Airlines vai aumentar mais um voo por semana a partir de Março, e outras companhias aéreas europeias como a KLM e a Air France irão também aumentar significativamente os seus voos para a China num futuro próximo. Isto vai aumentar a capacidade de fluxo aéreo e possibilitar muito mais turistas chineses a visitar Portugal.
Mesmo perante tais expetativas positivas, de acordo com os últimos dados, a China posiciona-se apenas como o 27.º mercado turístico para o destino Portugal. O que pode ser feito para alterar esta situação?
Y.L. – Este ranking reflete o enorme potencial que existe para explorar na China enquanto mercado emissor de turismo. A China é o número 1 do Mundo há vários anos. Por conseguinte, acreditamos que seria muito importante para a indústria turística portuguesa que fosse atribuído ao mercado Chinês uma outra prioridade, mais elevada, no seu plano de estratégias de promoção do mercado turístico em 2023.
No ano passado, a China abriu as portas à entrada de agências de viagens portuguesas no seu mercado de ‘outbound’. Há dados recentes positivos sobre este assunto?
Y.L. – Em Outubro do ano passado, divulgámos essa oportunidade através dos meios de comunicação de turismo especializados em Portugal, mal esta nova política foi lançada pelo governo Chinês. Acreditamos que se trata de uma oportunidade única, e estamos satisfeitos pelo facto de algumas agências de viagens terem mostrado interesse na mesma. Nós, na ACTEP, estamos abertos a ajudar as agências de viagens interessadas a estabelecerem-se na China, é obviamente um bom investimento para o futuro, mas também de curto prazo.
Sente que as agências portuguesas ainda têm receio de investir na China ou considera apenas que é falta de informação?
Y.L. – A falta de informação é certamente a principal dificuldade para as agências de viagens que planeiam investir no mercado de turistas estrangeiros da China, e isso foi também uma das principais razões pelas quais a ACTEP foi criada. Para facilitar a compreensão mútua entre as empresas de turismo e viagens de ambos os países e, em última análise, entre os dois povos. Promovemos Portugal na China e a China em Portugal. Estes dois anos, como todos sabemos, representaram um grande desafio e, embora não tenhamos parado os nossos esforços, acreditamos que obterão bons resultados em 2023 e nos seguintes. A nossa vantagem é o facto de conhecermos ambas as realidades – chinesa e portuguesa – estamos em ambos os países, estamos numa posição única para construir pontes. As agências de viagens portuguesas que confiam em nós serão com certeza bem sucedidas também nessa frente.
Há pouco mais de um ano, a ACTEP previa um milhão de turistas chineses em Portugal para 2025. Ainda mantém fé nestes números?
Y.L. – A pandemia, naturalmente, obriga a rever este objetivo, mas acredito que, se todos quisermos, será uma recuperação rápida. Para alcançar este objetivo, é necessário o pleno esforço de toda a indústria turística nacional de Portugal, e não apenas de uma associação. Se Portugal pudesse rever a sua estratégia de marketing promocional e colocar a China na posição correta, acredito que será capaz de atingir estes números muito rapidamente.
A ACTEP tem gerido alguns pavilhões portugueses em feiras no mercado asiático. Entenderam no final dos eventos que o interesse dos chineses em Portugal é sério?
Y.L. – Ficámos muito honrados por termos sido convidados a construir e gerir o Pavilhão de Portugal na EXPO Horticultural Yangzhou em 2021, bem como noutro importante evento durante a Feira Internacional de Comércio e Serviços da China de 2022, que são duas das feiras mais importantes da China. Estes factos mostram que a China está muito interessada em Portugal, não só pela sua história, mas também pelos seus produtos – recordo que cobrimos o Pavilhão de Portugal na Expo Yangzhou com prancha de cortiça da marca Amorim, que é exatamente o mesmo que o pavilhão português na Expo Xangai 2020, ambos alcançaram grande sucesso para destacar a imagem de Portugal. Também apresentámos os melhores vinhos portugueses da Bacalhoa e outros, e a gastronomia. As reações que recebemos foram absolutamente encorajadoras.
A ACTEP foi criada em 2019, antes da pandemia, pelo que o trabalho não terá sido facilitado. Que balanço faz destes quatro anos na promoção de Portugal na China?
Y.L. – Pretendemos que Portugal seja um destino que os turistas chineses não podem deixar de visitar. Este é o principal objetivo pelo qual a ACTEP tem trabalhado arduamente durante os últimos anos e vai continuar a fazê-lo, no âmbito da sua estratégia para o turismo recetivo em Portugal. Mas também devo dizer que veremos também um aumento significativo de viajantes estrangeiros a visitar Macau e a China, que é um destino turístico enorme, diversificado e altamente competitivo. Macau, certamente, está muito bem posicionado entre Portugal e a China.
Por último, o que pode dizer aos chineses para terem Portugal como possível destino turístico?
Y.L. – Portugal tem sido, justamente, nomeado como um dos melhores destinos na Europa, há muitos anos. E Macau é a ponte, com 500 anos de história, que liga Portugal e a China. Tudo isto torna Portugal muito único e atrativo para os turistas chineses, o trabalho da ACTEP é ajudar a indústria turística portuguesa em geral a estar pronta para receber as ondas de turistas chineses num futuro próximo, assim como pretendemos ajudar a indústria de Macau e da China em geral.
Entrevista Plataforma / Macau