EM ENTREVISTA ao jornal Expresso, George Glass, embaixador dos EUA em Portugal, afirmou que Portugal “tem de escolher” entre “trabalhar com os parceiros de segurança, os aliados, ou trabalhar com os parceiros económicos, os chineses”, deixando em cima da mesa possíveis mudanças na relação com Portugal ao nível da Defesa e, eventualmente, da relação política entre os dois países.
Este inaceitável “bullying político”, vem a propósito de processos em curso, como a posição dos chineses na EDP, o 5G, a entrada da CCCC na Mota-Engil ou a construção do terminal de Sines, acrescentando o embaixador, em tom nada diplomático que, se os chineses ganharem o concurso para o terminal Vasco da Gama, em Sines, o gás natural americano terá de encontrar outras alternativas.
Trata-se de um posicionamento completamente absurdo, despropositado e arrogante, tipo “quero, posso e mando”, ou “dono disto tudo”, inaceitável para quem exerce funções de embaixador, revelando total falta de senso político e, sobretudo, de preparação diplomática para o cargo que exerce, a menos que estas afirmações tenham sido “encomendadas” pela administração Trump, ou se trate de uma iniciativa do próprio embaixador numa tentativa de “marcar pontos” perante o “chefe”, na sua guerra fria com a China.
O Governo português registou estas declarações e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, respondeu, com sabedoria diplomática que “em Portugal as decisões são tomadas pelas autoridades portuguesas”. Admitindo que Portugal acaba inevitavelmente por ser parte do campo de batalha na Europa, entre os Estados Unidos e a China, com quem faz negócios há séculos, o confronto constante da Casa Branca com a China obriga-nos a correr sérios riscos.
Dos âmbitos comerciais e tecnológicos à competição armamentista e a luta pela influência nos diversos continentes, os dois gigantes protagonizam uma disputa pela hegemonia global repleta de perigos e de final incerto.
No entanto nenhum dos dois rivais atravessa seu melhor momento. Se os Estados Unidos já têm o olhar nas suas eleições de novembro, a China conseguiu deixar para trás o pior da pandemia, mas com um custo elevado.
Os 4 negócios em que os EUA querem afastar Portugal da China
EDP
A tentativa dos chineses da China Three Gorges (CTG) de assumirem uma posição de controlo na EDP – com uma OPA que, entretanto, falhou – foi apontada pelo embaixador norte-americano em Lisboa como “a primeira” batalha em Portugal da guerra entre os EUA e a China.
Mota-Engil
George Glass admite, na entrevista ao Expresso, eventuais “sanções” para as empresas portuguesas envolvidas em negócios com congéneres chinesas, apontando o caso do grupo Mota-Engil, que acusa de ter vendido “por 30 moedas de prata” 30% do seu capital aos chineses da China Communications Construction Company, Ltd. (CCCC).
Leilão 5G
A questão das redes móveis de quinta geração (5G) tem estado no centro da troca de acusações entre a China e os Estados Unidos, com a Comissão Europeia a recomendar aos Estados-membros a aplicarem “restrições relevantes” aos fornecedores considerados de “alto risco”.
Novo terminal do Porto de Sines
O novo terminal de Sines foi outro dos investimentos comentados pelo embaixador norte-americano, que descreveu o porto português como sendo “incrivelmente estratégico”, tratando-se do “porto de águas profundas mais próximo dos Estados Unidos”.