Ganhámos o Tour de France com os dois primeiros lugares e foi uma vitória para todos. A clássica corrida com que todos crescemos ganha um novo fôlego quando temos dos nossos na frente da competição, prova após prova.
Tadej Pogačar, que fez apenas 21 anos no dia a seguir à vitória, é o mais novo vencedor desde 1904, com o segundo ano na corrida. Em segundo lugar, Primož Rogliček foi campeão de saltos de ski em 2007, o mesmo ano em que teve uma queda cuja lesão o levou a trocar os skis pela bicicleta em 2012. No ano passado ganhou a Vuelta a Espanha, uma das três maiores competições mundiais a par com o Tour de France e o Giro D’Italia. Quem sabe se os vamos ver na Volta a Portugal.
Os vencedores foram eslovenos sim, mas tal como eles nos dizem, a nós por cá que “somos da casa”, também sentimos na pele as vitórias eslovenas. Penso que este é um sentimento transversal a toda a comunidade portuguesa na Eslovénia. Aliás, as bicicletas são um meio de transporte muito comum por cá, especialmente aos que vivem na capital Ljubljana. Eu, pessoalmente, troquei há mais de dez anos o trânsito infindável de Lisboa pela mobilidade eslovena. Está-se em qualquer lado em meia hora no máximo, é só dar ao pedal. E para quem não comprou ainda a sua, há bicicletas de cidade, com uma rede até bastante eficiente e frequentemente utilizada.
Aliás, a bicicleta é talvez a prioridade na mudança de estilo de vida para a maioria dos portugueses que vêm viver para a Eslovénia. Mesmo para aqueles que pouco ou nada andaram a pedalar quando ainda estavam em Portugal. Ajuda o facto de que há estradas para bicicletas bem sinalizadas por todo o lado e, os condutores já habituados aos ciclistas, não lhes impõem a sua viatura.
Na vizinha Zagreb, na Croácia, também se pedala por todo o lado, mas a cidade é maior e em alguns pontos com mais subidas. Por outro lado, a vizinha Trieste, na Itália, tem demasiadas colinas a fazer lembrar Lisboa, e as bicicletas são muitas vezes substituídas pelas vespas bem italianas.
Não há dúvida que quem adota a cidade de Ljubljana como a sua casa (paralelamente à sua cidade natal em Portugal) adota também um modo de vida saudável, que começa na bicicleta e nas corridas ao fim da tarde, passando pelo montanhismo e até desportos aquáticos passados no Adriático aqui tão perto. Centros-comerciais há poucos e, embora o consumismo por cá também esteja a aumentar, ainda não são mais atrativos que o topo das montanhas. Talvez esse modo de vida saudável seja uma das razões pela qual o controlo da pandemia tenha sido mais fácil. Mas essa história fica para a próxima.