“Esta era uma questão que devia estar na agenda do Conselho de Estado que acabou de anunciar. Este é o tipo de questão que devia ser discutida no Conselho de Estado como preparação da opinião pública para medidas sensíveis que mudem isto, que ouçam os militares”, disse, em declarações à SIC Notícias.
No seu espaço de comentário, Ana Gomes defendeu que “é preciso de ter a coragem política” de explicar aos cidadãos que o setor da Defesa “tem de pagar salários razoáveis, de acordo com a função e as necessidades, porque, se não, as pessoas são desviadas para o privado”. Comentava a socialista as notícias avançadas pelo jornal Expresso, que davam conta, entre outras informações, que há praticamente dois chefes por cada soldado nas Forças Armadas portuguesas.
“O que estamos a ver hoje é que muitas das pessoas que vão aprender e desenvolver as suas capacidades nas várias áreas Forças Armadas rapidamente vão para o privado onde ganham muito melhor. Temos de pagar bem”, defendeu.
Ana Gomes recordou ainda os seus tempos de eurodeputada, em que falava frequentemente com o sargento Lima Coelho, atualmente presidente da Associação Nacional de Sargentos, e que “uma das queixas que tinha era que os ministros de diversos Governos não o recebiam”.
“Nas últimas décadas, houve uma destruição das nossas Forças Armadas e uma delapidação”, atacou ainda, criticando as alegadas redes de corrupção no setor.
Ana Gomes sugeriu que a rede suspeita na operação ‘Tempestade Perfeita’ “é, quase, pequena, em comparação com a corrupção em larga escala que esteve envolvida, por exemplo, na compra de submarinos”.
“Não é a compra de submarinos que ponho em causa, é o esquema de desvio de recursos públicos, que foi, por exemplo, para as comissões”, continuou.
A antiga eurodeputada não poupou nos seus ataques, acusando “uma cumplicidade transversal no setor partidário que foi Governo ao longo das últimas décadas e uma cumplicidade da própria Justiça quando, por exemplo, seguiu ordens e arquivou um processo tão emblemático como o dos submarinos ou a privatização dos estaleiros navais de Viana do Castelo”.
“No fundo, demonstram impunidade e que o crime compensa, à conta dos recursos do Estado e da Defesa, em que o Estado não devia abdicar do controlo estratégico”, concluiu.