A artista portuguesa Cátia Esteves vai participar, pela primeira vez, na Noite Branca de Paris, este sábado, com uma instalação de 12 esculturas monumentais suspensas na Ponte de Notre-Dame. As obras, que representam nuvens, são iluminadas do interior e vão irradiar sombras e volumes num ambiente imersivo junto ao rio Sena.
É a primeira vez que a artista portuguesa Cátia Esteves, de 32 anos, vai expor na Noite Branca de Paris. Para este sábado, preparou uma instalação chamada “Sweat Dreams”, que vai estar sob um dos arcos da ponte de Notre-Dame. São 12 esculturas feitas de papel reciclado, iluminadas por uma cor dourada e que projetam sombras e movimentos no espaço.
“Sweat Dreams é uma instalação que vai estar em baixo da ponte de Notre-Dame, em Paris. É uma instalação luminosa. Vai ser composta por 12 esculturas que vão estar suspensas por baixo da ponte. Essas esculturas em forma de nuvem estarão iluminadas e vão criar toda uma atmosfera dentro da ponte que vai receber os visitantes, proporcionando um momento de calma, de reflexão. É um lugar íntimo e o meu desejo é de poder permitir aos espectadores um momento de paz entre a água do rio Sena que vai estar a correr e estas nuvens suspensas assim com um universo meio de sonho”, descreve a artista.
Arquiteta de formação, Cátia Esteves teve necessidade de se exprimir através da gestualidade, da materialidade e da sensibilidade da escultura, mantendo-se fiel às noções de espaço e “cenografias habitáveis” em que convida o espectador para “fazer parte integrante deste universo”. Por isso, as esculturas jogam com a luz, as sombras, os volumes e com a própria arquitetura da Ponte de Notre-Dame.
No seu trabalho, Cátia Esteves usa “materiais do quotidiano”, como papel, fio metálico, esferovite ou cartão, e transforma-os em peças nobres, em autênticas obras de arte. Em “Sweat Dreams” triturou, manuseou e moldou ao detalhe papel reciclado. Para a artista, esta é uma forma de lembrar que “os recursos naturais vêm de uma fonte que não é inesgotável”.
“Eu transformo esse papel por um processo bastante longo em que ele é triturado, depois é manuseado para ficar uma pasta e é esse novo material que aplico sobre moldes de um só uso – portanto são peças únicas – e este material fica rígido e dá corpo à obra. É a minha forma de dar uma resposta também à nossa forma de consumir, à nossa perceção do valor das coisas e dos materiais que nos envolvem.”
No seu atelier, perto de Bastilha, as suas obras parecem flutuar no espaço, entre grandes candeeiros de papel que parecem de filigrana, tiras que dançam no espaço, nuvens que parecem corais… A natureza é omnipresente, assim como a noção de tempo – quer no que é representado, quer no papel que o tempo tem na fabricação e vida das suas obras.
Cátia Esteves saiu de Portugal há 10 anos, esteve no Brasil a concluir a tese de mestrado de arquitetura e depois foi para a Bélgica para trabalhar como arquiteta. Foi aí que começou a fazer escultura porque “sentia a necessidade” de se “expressar quanto aos recursos naturais e criar coisas que fossem palpáveis”. Graças às primeiras esculturas, as “gotas”, começou a ser convidada para participar em exposições em França, para onde se mudou há seis anos.
Atualmente, Cátia está também a trabalhar numa escultura monumental para a Mairie du 11ème, em Paris e a preparar uma “floresta” no Boulevard Daumesnil, em Paris, com Gérard Desquand, presidente do júri Artesanato de Arte da Fondation Banque Populaire e autor de gravuras em baixo relevo sobre latão. Em março de 2021, a artista vai expor no Museu Mobilier National/Les Gobelins, em Paris.