A comunidade que fala a nossa língua tem por uma vez a oportunidade histórica de mudar o Luxemburgo.
Está prestes a acontecer uma coisa extraordinária. Este ano, pela primeira vez na história, os cidadãos que habitam no Luxemburgo vão poder votar nas eleições comunais, independentemente de viverem aqui há uma semana ou há dez anos. Uma nova lei permite aos residentes do Grão-Ducado decidirem como é que as suas cidades, vilas ou aldeias vão ser geridas nos próximos anos. Os portugueses representam um quinto da população eleitoral deste país. Temos pela primeira vez a oportunidade de mudar a vida de cada pedaço do nosso território.
O Luxemburgo é nosso, também. As nossas primeiras gerações construíram o país depois da II Guerra Mundial o deixar em ruínas. Os filhos e netos dos que aqui chegaram primeiro não só se integraram como conseguiram fazer este Grão-Ducado maior – às vezes combatendo um certo ‘establishment’ luxemburguês, capaz de atribuir mais vantagens à origem do que à competência. Depois há os que vieram recentes e urbanos, mas são tão emigrantes como os outros.
Só que este ano deram-nos voz para dizer como o país onde vivemos pode ser gerido. Cá eu reconheço ao engenho português a capacidade e a criatividade para tornar este Luxemburgo melhor. Há pequenas coisas que todos sabemos que podiam funcionar melhor na nossa rua, no nosso bairro, na nossa comuna. Ficar no sofá a ver a vida de fora é preguiçoso, digo. Precisamos do génio português, e precisamos da sua massa crítica para fazer o nosso Grão-Ducado melhor.
Uma das coisas que mais me irrita é ouvir de resposta quando faço uma crítica ao sistema grão-ducal: “se estás mal, muda-te”. Não. Não. Não. Eu sou daqui. Eu vivo aqui. Eu amo este lugar e quero torná-lo melhor. E se tenho uma crítica ou uma ideia, o melhor que tenho a fazer é verbalizá-la. Calar-me é que uma agressão.
Então o Luxemburgo pediu-nos agora a todos, pela primeira vez a portugueses e residentes de outras nacionalidades, que façamos parte das decisões que orientam o país. Ignorar esse apelo seria de uma arrogância extrema. Ao contrário do que pensávamos, ninguém nos quer calados e mansos neste país. Os luxemburgueses estão a pedir-nos para contribuirmos com as nossas ferramentas para fazermos este pequenino lugar melhor. E nós temos gente e ideias para fazê-lo melhor, sim.
Nas próximas semanas, aqui no Contacto, daremos voz a alguns candidatos lusófonos que têm ideias para mudar o Grão-Ducado e a Europa. Vamos ouvir gente de todos os quadrantes políticos – e vamos ouvir as suas ideias. São pessoas de origem portuguesa que podem, a partir de agora, ser voz para um quinto dos residentes deste país. No palco que aqui recebem não nos interessa tanto a fratura, prometemos. Interessa-nos a construção. Com uma visão lusófona.
A comunidade que fala a nossa língua tem por uma vez a oportunidade histórica de mudar um país. Pode ser o primeiro passo para transformar o mundo inteiro. Mas isso nunca acontecerá se não formos às nossas comunas, ou ao site MyGuichet.lu, dizer que somos daqui e que queremos que isto seja melhor. O que nos move é a ideia de uma terra melhor. Está na hora. Inscrevam-se para votar. Já.
Ricardo J Rodrigues / Contacto LU