A emigração portuguesa é parte integrante da nossa história e da nossa identidade. Sempre existiu ao longo dos séculos e é responsável por um legado humano considerável espalhado por todos os continentes. Desde os tempos da expansão marítima até à última vaga migratória da segunda década do século XX, as razões que levaram os portugueses a deixar o seu país são diversas. Onde quer que tenham chegado e independentemente dos contextos culturais, os portugueses sempre mostraram uma considerável capacidade de adaptação, não obstante as dificuldades, perigos e dramas que também viveram. Trata-se de uma realidade que merece ser conhecida de todos, o que se pode fazer através do ensino da história da emigração, integrado nos currículos escolares, numa abordagem que faça justiça às sucessivas gerações de portugueses que tiveram de deixar o país em busca de outra vida.
Ao longo dos séculos, as expressões da emigração foram variando, consoante os contextos económicos, sociais e políticos. Durante todo o século XX registaram-se dois movimentos migratórios bem definidos. Um, na primeira metade do Século XX, que foi uma emigração transoceânica, dirigida particularmente para o continente americano, que a ditadura procurou combater através dos seus meios de repressão e propaganda. Já na segunda metade do Século XX, a emigração foi sobretudo para a Europa, logo a seguir à Segunda Grande Guerra, e dirigiu-se acima de tudo para França e para a Alemanha, ambas com características muito distintas, e mais tarde para países como o Luxemburgo, a Suíça ou o Reino Unido.
Durante o período da ditadura, o regime procurou sempre ter um controlo apertado sobre a emigração, utilizando-a em seu proveito, condicionando a vida das pessoas e a sua forma de pensar e de agir. Se a emigração para a Alemanha foi controlada e os portugueses sabiam antecipadamente onde iam trabalhar e residir, para França teve uma importante componente de clandestinidade, conhecida pela emigração “a salto”, o que não impediu uma atitude de abertura por parte das autoridades francesas, que legalizaram todos os que chegavam de forma irregular. Mas que não evitou também que muitos portugueses acabassem a viver em condições muito precárias nos bidonvilles na periferia de Paris.
Esta é, portanto, parte integrante da nossa história coletiva, que merece ser reconhecida, valorizada e dignificada e não a indiferença ou a negação porque, quer queiramos ou não, ela está sempre presente de forma profundamente emotiva. Uma história que ainda hoje está marcada pelo estigma, que se foi cristalizando ao longo de todo o século XX, contribuindo de forma injusta para a existência de preconceitos que impedem uma relação normal com o vasto universo de portugueses residentes no estrangeiro. E nunca foi feita a necessária pedagogia para eliminar os preconceitos nem para compreender a emigração portuguesa na sua ação transformadora, tanto no país que ficou para trás como nos países de acolhimento, a nível económico, social, cultural e político.
É importante, por isso, ensinar de forma aprofundada a história da emigração a nível do ensino secundário, dando a conhecer como evoluiu em todas as suas facetas, na sua dimensão cultural e humana, no seu valor económico, na sua importância política e diplomática, mas também, claro, em todos os aspetos menos positivos e até dolorosos que em determinados períodos da nossa história caracterizou o fenómeno migratório português.
Tal como é importante fomentar os estudos destas temáticas ao nível do ensino superior, tanto em universidades portuguesas como estrangeiras, particularmente nos países onde existe emigração portuguesa. Não basta afirmarmos a grandiosidade do povo que deu novos mundos ao mundo e estarmos sempre a exaltar o nosso universalismo. Temos também de olhar de frente para a nossa emigração, para aquilo que ela representa e para a forma como moldou aquilo que somos como povo e como nação.