Tem-se verificado, ao longo dos últimos cem anos, que um dos grandes influxos de capital provém dos emigrantes. Em geral, dos depósitos regulares na conta-poupança, o que permite à banca emprestar, por cá, à construção civil e não só. Mas, este valor tem caído e cairá ainda mais.
Poderíamos apontar diversas razões, mas, mormente existem duas principais: ações do BES e banca, lá e cá. Muitos emigrantes perderam no BES as poupanças de toda uma vida, feita com muito esforço para se reformarem com uma vida confortável. Outros sentiram que essa poupança não era bem utilizada pela banca lusa através da agência onde viviam. As reclamações em nada resultaram. O BdP não representa os interesses destes emigrantes. A falta de confiança no nosso sistema bancário levou muitos a procurar outros bancos; e alguns a poupar menos.
Isto ocorreu há décadas noutros países, facto que deu origem a dois tipos de bancos “especiais”. A Coop bancária para PMEs, ligadas a uma Associação Empresarial Regional, como na Suécia. E a Banca Ética, com valores morais e éticos claros e cujo principal lema não é maximizar o lucro a qualquer custo.
Muitos banqueiros, cá, sabem que os processos se arrastam nos tribunais por longos anos e também sabem que, quando for declarada a decisão, já estarão idosos e a pena máxima que poderão apanhar é uma prisão domiciliaria – bom para quem já viajou pelo mundo, fez tudo o que queria, e agora quer ver filmes, ler livros e receber amigos para luxuosos jantares.
Por cá, a Caixa Agrícola não atua no estrangeiro, o que dificulta a captação de poupança dos emigrantes. Tem formas de agilizar os seus pagamentos cá, mas não é o mesmo que entrar num balcão da sua “terrinha”.
O mais conhecido banco ético é o Triodos, que desde a década de 80 atua em vários países. Ao decidir um crédito, além da análise financeira, considera o efeito social, cultural e ambiental. O microcrédito começou há 50 anos no Bangladesh, voltado para o crédito de curto prazo, e frequentemente ligado ao comércio, restauração ou nano serviços. Depressa chegou ao Chile. Lá, as principais instituições estão organizadas na Red para el Desarrollo de las Microfinanzas, criada em 2001, que articula os esforços em favor do microcrédito. O Brasil há 14 anos começou a seguir o Chile.
O Banco de Fomento em Portugal parece burocrático e quiçá segue o agora denunciado cartel da banca. A solução é simples. Se, a título de exemplo, 200 indústrias locais formam uma cooperativa com 400 mil euros de capital e o Banco de Fomento a ela empresta 800 mil, 30 indústrias prioritárias recebem 40 mil euros cada e, a cada mês, outros 400 mil de emigrantes e 800 do Fomento atendem novos cooperados. Os emigrantes sentem-se seguros, e satisfeitos por verem que as suas poupanças contribuem para melhorar o interior de onde muitos saíram.