A lista está afixada à entrada do tribunal, são 13 os partidos e coligações que concorrem às eleições regionais de 24 de setembro, mas podiam ser 14 se a coligação PPM/Nós Cidadãos não tivesse confundido o prazo de entrega dos nomes dos candidatos.
Os monárquicos estão fora da corrida e não são os únicos a sentir os estragos provocados pela elaboração das listas. Há queixas na Comissão Nacional de Eleições, ameaças de impugnação no Tribunal Constitucional e, no PS-Madeira, quem ficou de fora não esquece, nem perdoa.
“Este líder, o Sérgio Gonçalves, é a voz do dono, uma caixa de ressonância do Cafôfo (atual secretário de Estado das Comunidades, que liderou o PS nas últimas regionais) e do Iglésias (deputado do PS), do que dizem a partir de Lisboa.” Emanuel Câmara foi presidente do PS-Madeira e vai no terceiro mandato à frente da Câmara do Porto Moniz, município com três mil eleitores na costa norte da Madeira. Em 2019 foi uma peça-chave, mas não esquece tudo o que aconteceu depois disso. O episódio mais recente é não haver um representante do norte em lugar elegível na lista socialista.
“É mentira que tenha falado comigo sobre isso. Isso não é verdade e não é admissível que o líder da JS apareça apenas em 21º lugar”, diz ao Expresso. A revolta é o acumular de quatro anos de desconsiderações do secretário de Estado das Comunidades, o homem que ajudou a promover, o mesmo que, segundo diz, continua a decidir tudo o que se faz no PS-Madeira. Emanuel Câmara não se arrepende de ter entrado numa luta interna do partido apenas para permitir que Paulo Cafôfo fosse candidato a presidente do governo regional.
O plano resultou no melhor resultado eleitoral dos socialistas, com 19 dos 47 deputados, mas falhou a possibilidade de se criar uma geringonça. O PSD formou governo com o CDS e, no PS, Cafôfo tornou-se militante e foi eleito líder, mas descartou Emanuel Câmara e o núcleo duro do antigo presidente. “Continuo sem perceber a razão de termos sido descartados depois destes resultados.” Não percebe, mas não esquece. Ainda assim não quer que o responsabilizem por um eventual mau resultado a 24 de setembro.
A convocação de eleições internas no PS irá depender da dimensão da derrota e algumas sondagens colocam os socialistas a eleger apenas seis deputados
A convocação de eleições internas irá depender da dimensão da derrota e algumas sondagens colocam o PS a eleger apenas seis deputados. Ou seja, a perder 13 lugares. O ambiente é, por isso, diferente do que os socialistas viviam em 2019, mas a coligação PSD/CDS não baixa a guarda, não se vá dar o caso de uma maior dispersão de votos à direita pôr em causa a maioria absoluta.
O Chega tenta, por todos os meios, ser relevante na formação no próximo governo. O objetivo é eleger um grupo parlamentar e captar votos entre os que estão insatisfeitos com o socialismo do Governo da República e com o PSD de sempre no Governo Regional.
Depois de terem escolhido como mandatário financeiro um antigo representante da Caixa Geral de Depósitos em Caracas e muito respeitado pela comunidade portuguesa, os candidatos do Chega decidiram aparecer na festa Luso-Venezuelana e tecer comentários aos imigrantes que vivem dos apoios do Estado. A ideia era dar a comunidade venezuelana como um bom exemplo de trabalho, mas acabou por cair mal e a tensão aumentou. Ficou o aviso. Os regressados da Venezuela são, na sua maioria, eleitores do PSD e Carlos Fernandes, do núcleo da diáspora dos sociais-democratas, entende que é preciso estar muito atento: “Estão à espreita de qualquer deslize, de qualquer oportunidade.”
É certo que o próprio Chega tem problemas internos e há até uma queixa na Comissão Nacional de Eleições apresentada por militantes a contestar a possibilidade de o partido se candidatar às eleições regionais, já que, devido a uma decisão do Tribunal Constitucional, os órgãos nacionais do partido não terão validade legal. E existem ainda desentendimentos sobre a própria eleição da direção regional. Ainda assim o partido está na lista afixada à entrada do tribunal judicial do Funchal.
Queixas à Comissão Nacional de Eleições e impugnações no Tribunal Constitucional são comuns a vários partidos
O partido de André Ventura — que fez questão de estar na Madeira enquanto em Lisboa decorria a visita do Papa e a Jornada Mundial da Juventude — poderá beneficiar da convulsão interna dentro do Juntos Pelo Povo (JPP), o partido que governa Santa Cruz, o segundo concelho mais populoso da Madeira. A elaboração da lista levou à demissão do presidente, que é também presidente da Câmara e aparece nas sondagens como o político mais popular da Madeira, logo a seguir a Miguel Albuquerque. O secretariado do JPP, do qual é fundador e que nasceu de um movimento de cidadãos, decidiu dar-lhe o quinto lugar na lista. Filipe Sousa não aceitou e demitiu-se da liderança.
As listas fizeram estragos também entre os pequenos partidos. No PAN, Joaquim Sousa, o líder, foi de férias como cabeça de lista e, quando regressou do Porto Santo, estava em quinto lugar. A decisão, tomada em 48 horas, terá sido de Lisboa e por vontade Inês Sousa Real. Agora, há uma ameaça de impugnação no Tribunal Constitucional, mas a reviravolta na lista do PAN não é, no entanto, o caso mais estranho na entrega de listas na Madeira.
Apesar de a lei eleitoral obrigar a que os partidos apresentem 94 nomes nas regionais da Madeira (47 efetivos, 47 suplentes), a coligação que juntava PPM e Nós Cidadãos conseguiu os nomes todos e tinha a lista pronta. O problema foi o cabeça de lista, Paulo Brito, ter confundido o prazo da entrega no Tribunal Judicial do Funchal por causa de uma notícia de jornal. Ao que parece estava convencido que o prazo terminava a 16 de agosto e não a 14.
11 Partidos e duas coligações
O Tribunal do Funchal recebeu 13 listas para as regionais de 24 de setembro, correspondendo a 11 partidos e duas coligações. E já sorteou os lugares no boletim de voto:
- Partido Trabalhista Português (PTP)
- Juntos Pelo Povo (JPP)
- Bloco de Esquerda (BE)
- Partido Socialista (PS)
- Chega (CH)
- Reagir Incluir Integrar (RIR)
- Partido da Terra (MPT)
- Alternativa Democrática Nacional (ADN) — partido que resulta da alteração de designação do Partido Democrático Republicano, validada pelo Tribunal Constitucional a 28 de setembro de 2021
- Somos Madeira (coligação PSD/CDS-PP)
- Pessoas Animais Natureza (PAN)
- Livre (L)
- CDU — Coligação Democrática Unitária (PCP/PEV)
- Iniciativa Liberal (IL)