Como terceira força política no Parlamento português e na representação parlamentar nos círculos da emigração, a revista Comunidades convidou o partido CHEGA a expressar as suas intenções de relacionamento com a emigração portuguesa.
Portugal é muito mais do que esta meia dúzia de quilómetros quadrados que se estende entre Espanha e o Atlântico. E bem mais do que os 10 milhões de portugueses que aqui vivem. Portugal é isto, mas também, e simultaneamente, muito mais do que isto.
Porque Portugal está também onde estão os 5 milhões de portugueses espalhados pelos quatro cantos do mundo. E está mais aí do que aqui, porque esses cinco milhões são os decidiram correr o risco de partir à aventura para conquistarem uma vida melhor e mais digna e tiveram a energia para o conseguir.
Onde quer que estejam criaram empresas ou desempenham com competência os seus lugares e as suas profissões. Criam os seus filhos no respeito pelos nossos valores, pelas nossas tradições, e pelo trabalho bem feito. Vivem em comunidades sólidas, mas não fechadas sobre si próprias, sempre abertas e francas com os países de acolhimento. Não são um peso para as sociedades que os recebem, mas, pelo contrário, criam riqueza e ajudam a criar riqueza nessas sociedades.
As nossas comunidades de emigrantes são o melhor que Portugal tem. São o seu mais precioso activo. Ativo material, mas, também, ativo moral.
Defensor intransigente dos portugueses que trabalham e que criam riqueza para si e para a comunidade em que se inserem, o Chega não poderia deixar de encarar estas comunidades espalhadas pelo mundo como uma reserva moral da portugalidade.
E foi assim que, desde a sua fundação, o Chega decidiu que os portugueses integrantes destas comunidades não poderiam ser encarados como os sucessivos governos e os partidos do sistema os têm encarado, como portugueses de segunda ou semi-estrangeiros mas, sim, como portugueses de pleno direito, e um exemplo a ser seguido pelos portugueses aqui residentes. Se há portugueses que merecem todo o carinho do Estado português, são estes.
Para nós, Chega, Portugal não é um país com 10 milhões de habitantes entalado entre a Espanha e o mar. É uma nação com 15 milhões de habitantes espalhado pelo mundo, com os mesmos direitos e os mesmos deveres, tal como a Constituição o exige.
Pessoalmente, sempre soube que o tratamento dado pelos sucessivos governos e pelos partidos que nos têm governado aos portugueses da diáspora era pouco decoroso. Mas o envolvimento que tenho tido, como responsável do Chega pelas Comunidades Portuguesas, veio demonstrar-me até que ponto esse tratamento era vergonhoso. Não vou elaborar a resenha dos inúmeros pormenores dessa vergonha, pois que os leitores desta revista terão deles pleno conhecimento. Mas não posso deixar de explicitar a repulsa que sinto pela percepção que tenho de que os portugueses da diáspora apenas têm contado, ao longo dos anos, para duas funções básicas: extorsão fiscal e massa de manobra para garantir o lugar, em S. Bento, a dois deputados de cada um dos dois grandes partidos-pilares do sistema: o PS e o PSD.
Nós queremos mudar radicalmente isto, e tudo faremos, custe o que custar, para o fazer. Porque, como é evidente, esta forma de lidar com os portugueses da diáspora apenas poderá resultar no que tem resultado: um progressivo afastamento de muitos deles da sua Pátria, o desinteresse pelo futuro desta e o alheamento dos processos eleitorais onde se joga esse futuro.
Felizmente, estas últimas eleições deram ao Chega o terceiro lugar entre os partidos mais votados. Para isso contribuíram os votos dos portugueses no mundo dando-nos eles, também, o terceiro lugar, sendo que em algumas mesas da Suiça nos deram, mesmo, o segundo.
Isso mais ainda nos motiva a lutar por aquele que é, desde o início do partido, um dos seus objectivos mais claros: lutar por um país de 15 milhões de habitantes, gozando todos eles, sem excepção, dos mesmos deveres e dos mesmos direitos de cidadania.
Queremos os nossos portugueses das comunidades empenhados e interessados no futuro deste país mergulhado numa tão profunda crise. Porque se os melhores de entre todos nós se não interessarem pelo nosso futuro, não será com os outros que poderemos contar.
Diogo Pacheco de Amorim é Coordenador da Comissão Política Nacional do Chega e vogal da sua Direcção, com o pelouro das Comunidades Portuguesas. Membro da Assembleia Municipal de Cascais e deputado, pelo círculo eleitoral do Porto, à Assembleia da República.